Iniciativa do Instituto Comida e Cultura, projeto Cozinhas e Infâncias aposta na formação de profissionais da Educação Infantil para promover uma alimentação mais saudável para as crianças
Conteúdo original de Educação e Território, com reportagem de Carol Scorce
Qual o lugar da alimentação saudável na Educação Infantil? Além de ser um direito fundamental, conhecer os alimentos que estão no prato – suas origens e as formas como são produzidos, processados, transportados, vendidos e preparados – é essencial para o desenvolvimento integral das crianças.
Com isso em mente, o projeto Cozinhas e Infâncias do Instituto Comida e Cultura quer aproximar e convidar educadores, profissionais da Educação e comunidade a refletir sobre a alimentação saudável, cultura e meio ambiente.
“Quando conhecemos os alimentos e compreendemos o processo de produção daquilo que comemos, temos mais autonomia para fazer melhores escolhas”, explica Ariela Doctors, co-fundadora do Instituto Comida & Cultura ao lado da cozinheira Bela Gil.
Presente em escolas públicas de São Paulo (SP) e da Chapada dos Guimarães (MT), o projeto leva formação para professoras, cozinheiras e toda a comunidade escolar sobre o tema. A expectativa é que esse conhecimento seja replicado para as crianças da Educação Infantil, tudo a partir do olhar pedagógico para os alimentos desenvolvido durante a experiência formativa.
“Para fazer isso usamos a criança como sujeito, o alimento como objeto e o Brasil como espaço”, conta Ariela, que também faz parte do Conselho Consultivo do programa Educação e Território.
Além disso, a iniciativa parte da premissa de que a alimentação saudável pode ser uma ferramenta no combate a desafios como má nutrição, obesidade infantil, crise climática e racismo.
Educação alimentar
Embora a educação alimentar e nutricional esteja prevista em lei, há muitos desafios para sua implementação no chão da escola. A pouca familiaridade dos educadores com o tema é um deles.
Para suprir a lacuna existente na formação, o projeto Cozinhas e Infância disponibiliza aulas práticas e reflexões teóricas sobre o tema para professores, nutricionistas, gestores escolares, cozinheiras e outros servidores da rede municipal de São Paulo (SP). Na capital paulista, o projeto é desenvolvido desde 2022 em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e a prefeitura.
Partindo de cinco escolas e alcançando 100 educadores no primeiro ano do projeto, o curso foi ampliado para toda a rede pública de Educação Infantil da capital paulista a partir de 2023.
A formação reforça o papel das escolas públicas como espaços de promoção e garantia do direito à alimentação saudável e adequada, aprendizado e bem-estar de bebês, crianças, jovens e adultos. Por isso, a ideia de reconexão com o alimento implica no envolvimento de toda a comunidade escolar, dentro e fora dos muros da escola.
Educação alimentar: perspectivas inclusivas e decoloniais
Para incluir de vez a alimentação adequada e saudável no currículo, foi preciso que o Instituto Comida e Cultura integrasse estratégias pedagógicas. A premissa dessas estratégias, segundo Ariela, é a perspectiva inclusiva e decolonial da história da alimentação humana e da cultura culinária brasileira.
Assim, o processo pedagógico está fundamentado na valorização da diversidade de povos, territórios, biomas e culturas brasileiras, lançando mão das referências do Programa Nacional de Alimentação Escolar na indução da Educação Alimentar (PNAE), principal política pública de alimentação nas escolas do país.
“É importante dizer que Cozinhas e Infâncias tem como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde. Ele preconiza que não devemos pensar no alimento apenas pelo viés nutricional, mas sim pelo grau de processamento”, explica Ariela.
Ou seja, quanto menos processado, melhor para a saúde e para o meio ambiente. No curso, as educadoras aprendem, por exemplo, a decifrar os rótulos de industrializados e a classificar os alimentos.
“Mas uma das coisas mais importantes é reaproximar essas formadoras do hábito de cozinhar, que passa por acesso a conhecimento, mas passa também por acesso ao tempo”, completa a especialista.
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