Uma década do Guia Alimentar para a População Brasileira 

15 de novembro, 2024

Publicação segue atual e necessária, e deve orientar políticas públicas para combater a fome e promover a saúde e a sustentabilidade

Conteúdo publicado originalmente no Nexo, de autoria de Patrícia Jaime 

Dar à alimentação o espaço que ela merece. Aprender e compartilhar receitas, optar por preparar alimentos com temperos frescos, sem excesso de óleos, sal ou açúcar. Evitar alimentos ultraprocessados. Ir à feira, perceber a variedade nas texturas, cores e cheiros. Fazer das refeições momentos de troca, aproveitar a companhia da família, amigos, colegas de trabalho. Essas são recomendações expressas do Guia Alimentar para a População Brasileira, que, em 2024, completa 10 anos como um instrumento de referência nacional e internacional. 

O documento produzido pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP e a OPAS/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde), além de ser fonte de informação e de recomendações para a sociedade em geral, deve orientar profissionais de saúde (não só os nutricionistas), e tomadores de decisão sobre políticas públicas (não só as de alimentação e nutrição!). Tem potencial para o que denominamos “ações de triplo impacto”, pois além de induzir sistemas alimentares sustentáveis, incide nas dimensões social, econômica e ambiental, e, claro, na saúde pública. 

Baseado em evidências 

O Guia é orientado por evidências científicas que, nos dez anos desde sua publicação, ficaram ainda mais sólidas. Tem como pilar a classificação Nova de alimentos, desenvolvida por nós, pesquisadores brasileiros, e reconhecida mundialmente, inclusive por mecanismos da ONU – como a própria OPAS/OMS, e as FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). 

Na Nova, agrupamos os alimentos de acordo com o nível de processamento: in natura ou minimamente processados (a forma mais “crua”, ou com transformações que não alteram as características, como o trigo que vira farinha); ingredientes culinários processados (substâncias extraídas de alimentos in natura, como azeite); processados (ações industriais simples, como adição de sal e açúcar); e ultraprocessados, alimentos submetidos a múltiplos processos industriais, como a fragmentação das substâncias (por exemplo, isolar proteínas) e modificações químicas (tal qual adição de conservantes e aditivos para alterar cor e sabor). 

Os ultraprocessados são formulados para serem gostosos (hiper-palatáveis) e convenientes, já que não exigem tempo de preparo. São altamente rentáveis e lucrativos para a indústria, que transforma comida em mercadoria. Evidências consistentes indicam que o consumo elevado desses produtos é associado a mais de 32 agravos à saúde humana, incluindo morte precoce, câncer, doenças cardíacas e respiratórias, obesidade e depressão. 

Outra característica inovadora do Guia é que um dos princípios de sua concepção é o reconhecimento das diversas dimensões da alimentação, na perspectiva da Saúde Coletiva. Alimentação não é só o ato de ingerir alimentos. Devemos considerar o sistema agroalimentar – desde o plantio, até o transporte, armazenamento e comercialização. No Brasil, a alimentação foi reconhecida como direito humano em 2010, e o Guia é orientado por esse conceito. 

Leia o artigo completo no site do Nexo. 

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