A hora e a vez da Educação Alimentar e Nutricional: Seminário foi marcado por um convite à mobilização

13 de agosto, 2025

A Sala Alfredo Bosi, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, ficou lotada na tarde de 11 de agosto de 2025 para o seminário “A Hora e a Vez da EAN”, que também foi transmitido ao vivo para todo o Brasil. Ao longo da tarde, os debates mostraram como a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é estratégica na luta por direitos de maneira ampla — muito além do ambiente escolar — conectando saúde, justiça social, meio ambiente e cultura alimentar.

Erika Fischer em fala de abertura. Foto: Dani Neves.

A abertura contou com a fala de Érika Fischer, consultora de relações institucionais do ICC, que ressaltou a força da EAN como catalisadora de direitos:

“Para nós, a EAN pode ser uma ferramenta poderosa para a garantia de um dispositivo constitucional, com o famoso DHAA (direito humano à alimentação adequada e saudável), mas ele também é uma estratégia de catalização de outros direitos fundamentais. Conectando saúde, sociobiodiversidade, desafios climáticas, educação antirracista, ancestralidade e memórias, a educação alimentar se transforma em um pilar importante para a construção de não só de sociedades não só mais saudáveis, bem mais que isso. Mais justas, sustentáveis e humanas” Erika Fischer, consultora de relações institucionais do ICC, durante o evento.

Patricia Jaime e Ana Estela Haddad em fala de abertura. Foto: Dani Neves.

Também participaram da abertura Patrícia Jaime, vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública da USP, e Ana Estela Haddad, professora da Faculdade de Odontologia da USP, que destacou a importância da cooperação técnica com o ICC:

Para nós do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), da Escola da Metrópole, essa cooperação técnica com o ICC, que já está implementando a EAN no município de São Paulo, é muito importante e faz muita diferença para a promoção de uma mudança de cultura desde a primeira infância.” Ana Estela Haddad.

“Este Seminário, mais do que a apresentação de resultados, é um chamamento para reflexão, para ação e para a articulação política de diferente de atores sociais. Um diálogo entre a ciência, a cultura e a ação coletiva” Patricia Jaime.

POR MAIS COZINHAS NAS INFÂNCIAS

Logo após a abertura, Ariela Doctors e Daniela Brochado apresentaram a metodologia e os resultados do programa Cozinhas & Infâncias, desenvolvido pelo ICC nas escolas municipais de São Paulo. A iniciativa parte da ideia de que a formação de hábitos alimentares saudáveis na infância é decisiva para toda a vida.

Ariela Doctors apresenta os resultados do Cozinhas & Infâncias. Foto: Dani Neves.

Juliana Furlaneto, Ariela Doctors e Daniela Brochado apresentam os resultados do Cozinhas & Infâncias. Foto: Dani Neves.

MESA 1 | EAN na prática: trajetórias, fundamentos e diálogos

Com moderação de Semíramis Domene (Unifesp/IEA-USP), a primeira mesa reuniu Lígia Amparo dos Santos (EN-UFBA), Débora Lima (CulinAfro) e Jerá Guarani (agricultora e liderança Guarani).

Semíramis Domene, Jerá Guarani, Débora Lima e Lígia Amparo dos Santos. Foto: Dani Neves

O debate girou em torno da alimentação como prática ancestral e tradicional, trazendo as perspectivas de comunidades quilombolas e indígenas. Falou-se sobre o tempo (não apenas o cronológico, mas o tempo do plantar, do colher e do nutrir) e como ele influencia a forma de ensinar e aprender sobre comida.

“Como estamos lidando com o tempo das coisas, com o tempo do plantar, do colher e do nutrir? Como fazer uma EAN que acolha essa multiplicidade de tempos?”, provocou Lígia Amparo.

Débora Lima destacou como a educação popular e quilombola ressignifica o ato de cozinhar como prática política, enquanto Jerá Guarani falou sobre a educação alimentar indígena como processo de transmissão cultural e de fortalecimento da relação com a terra para as novas gerações.

MESA 2 | Políticas públicas e os desafios da prática

Moderada por Renata Marques (Unip/COMSAN Campinas), a segunda mesa trouxe Elisabetta Recine (UnB), Karine Santos (FNDE) e Giorgia Russo (IDEC). O diálogo aprofundou os desafios de transformar a EAN em política pública com estrutura pedagógica consistente, que leve à autonomia dos estudantes em escolhas alimentares éticas e sustentáveis.

Karine Santos e Elisabetta Recine na tela. Giorgia Russo e Renata Marques, no presencial. Foto: Dani Neves.

Giorgia Russo ressaltou que a educação alimentar precisa extrapolar o prato, convidando a refletir sobre a origem dos alimentos e a relação deles com a natureza. Elisabetta Recine reforçou:

“A gente nunca esteve e não está falando simplesmente sobre o que as pessoas comem ou não. Estamos falando sobre como nos posicionamos no mundo. Essa é uma vertente importante porque traz desdobramentos que vão muito além do prato.”

Lançamento de manifesto e convite à ação

Pessoa da plateia lê o documento de mediação do Seminário. Foto: Dani Neves.

O seminário culminou no lançamento do policy brief “A Hora e a Vez da Educação Alimentar”, que defende a EAN como política pública estruturante diante da sindemia global. O documento apresenta sete recomendações para gestores públicos implementarem a EAN de forma efetiva nas escolas, integrando saúde, educação, agricultura e assistência social.

Por fim, o encerramento foi marcado por um convite à mobilização, captaneado pela equipe do ICC, que se comprometeu a seguir mobilizando outras organizações e a sociedade civil para que a regulamentação da EAN saia do papel e se transforme em prática nos territórios. Nesse sentido, foi anunciada uma petição pública, que será conduzida para pressionar as instâncias responsáveis. Acompanhe os desdobramentos por aqui!

O evento terminou com a sensação coletiva de que a Educação Alimentar e Nutricional está pronta para ganhar mais espaço nas políticas públicas e no imaginário social. A íntegra da transmissão está disponível nos canais do ICC e do IEA-USP no YouTube. Assista:

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