Formação em educação alimentar chega a Curitiba com o programa Cozinhas e Infâncias

6 de maio, 2025

Quando aprendem desde cedo, as crianças semeiam conhecimento por onde vão. Sâo saberes que incluem conhecer seus direitos e deveres, desenvolver habilidades emocionais e técnicas, e aprender a cuidar de si, do outro e do planeta.

Para promover a semeadura de saberes sobre alimentação, história e meio ambiente, o Instituto Comida e Cultura (ICC) trabalha, desde 2022, com a formação de educadores por meio do Programa Cozinhas e Infâncias. Em 2025, enquanto esta experiência multidisciplinar inicia sua terceira fase em São Paulo, o Cozinhas e Infâncias chega a Curitiba, capital do Paraná. 

O projeto acontece por meio de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o ICC e a Prefeitura de Curitiba, e vem para potencializar o projeto “Mãos na massa”, já em desenvolvimento pela prefeitura nas escolas municipais, a partir da metodologia desenvolvida pelo Instituto Comida e Cultura. 

“O programa Cozinhas e Infâncias tem o alimento como ferramenta, falando muito da história geral e do Brasil. A gente decoloniza esses conceitos e traz para os educadores, principalmente de cidades no Sul e no Sudeste, uma realidade de um Brasil da qual eles estão mais distantes. E acredito que o mais poderoso nesse curso é ser uma ferramenta de união do grupo de cursistas”, afirma Ana Vasconcelos, facilitadora nos programas de formação do ICC.

Foto: Alef Lopes/ICC

Onze escolas municipais dos anos finais do ensino fundamental participam do Cozinhas e Infâncias na capital paranaense. Com o apoio do Instituto Bia Rabinovich (IBR), a expectativa é sensibilizar 40 educadores, que serão capazes de disseminar a educação alimentar integrativa e transformar vidas em suas comunidades. O curso é distribuído em sete módulos, ministrados no primeiro semestre de 2025.

“Fomentar a educação alimentar nas escolas brasileiras é uma estratégia poderosa de transformação social. Quando investimos na formação de educadores para levarem esse conhecimento às salas de aula, estamos indo muito além da promoção de hábitos saudáveis. Estamos enfrentando desigualdades históricas que afetam milhões de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade”, defende Carla Mourão, diretora executiva do IBR.

“Ao capacitarmos educadores da rede pública, damos a eles ferramentas para formar uma geração mais consciente, crítica e preparada para construir um futuro mais justo, sustentável e solidário. E ao patrocinar iniciativas como essa, reafirmamos nosso propósito de fomentar projetos que geram impacto social concreto e contribuem para a construção de um sistema alimentar mais justo, saudável e consciente em todo o Brasil”, completa.

De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24% da população de Curitiba se autodeclara preta ou parda. Esse percentual faz da cidade a capital com maior número de pessoas negras da região sul do Brasil. E, como resultado das desigualdades sociais por cor e raça no país, percebe-se maiores níveis de vulnerabilidade socioeconômica nas populações preta, parda e indígena.

Foto: Alef Lopes/ICC

“Há muitas pessoas negras em Curitiba, mas a maior parte é periférica. Uma das professoras participantes é uma mulher negra e relatou o quanto o curso estava sendo importante para ela sentir que está no caminho certo, que não deve desistir. Foi muito emocionante ver que pudemos dar apoio às decisões que ela vai tomar a partir da conscientização de quem ela é”, conta Ana Vasconcelos.

A educadora a quem Ana se refere é Lígia Krelling, que atua como técnica da equipe de ciências no Departamento do Ensino Fundamental da Prefeitura de Curitiba. Ela conta que se identificou com a abordagem sobre decolonidade na aula de abertura do Cozinhas e Infâncias. Quando escreveu sua tese de doutorado sobre as hortas comunitárias de Curitiba, Lígia diz que não incluiu o recorte de que a maior parte das pessoas que frequentavam esses espaços eram mulheres negras. Hoje, em outro momento de vida, está lendo sobre a Cida Bento, Sueli Carneiro e outras autoras negras que trazem esse recorte. 

“Como uma mulher negra, eu preciso participar desse grupo de estudos, e hoje eu já traria uma outra perspectiva para a minha pesquisa. Ao chegar aqui e ver a Ana falando, me identifiquei e me reconheci nela. Fiquei muito feliz de ver uma mulher negra numa posição de destaque e de perceber que o curso vai trazer essa perspectiva decolonial para o currículo e para a questão da alimentação, o que é muito significativo e importante. Esse é um lugar ao qual precisamos pertencer e existir, e agradeço muito a oportunidade de fazer esse curso.”

Tem interesse em colaborar conosco?

Se você tem um projeto de educação alimentar em andamento e gostaria que o Instituto Comida e Cultura leve sua metodologia pedagógica para a sua cidade, entre em contato conosco neste canal. Juntas e juntos, podemos levar educação alimentar a todas as crianças do Brasil!

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