Cozinhas e Infâncias leva educação alimentar ao Mato Grosso, com resgate da sociobiodiversidade

26 de maio, 2025

Primeiro município a receber o programa Cozinhas e Infâncias Territórios, Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, tem o Cerrado estampado em suas ruas, mesas, rostos. O segundo maior bioma brasileiro é repleto de saberes e sabores próprios, e uma cultura alimentar rica e diversa pronta para ganhar espaço nas cozinhas das novas gerações. 

Esse resgate da sociobiodiversidade é um dos objetivos do Cozinhas e Infâncias, promovido no território pelo Instituto Comida e Cultura (ICC), em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso, a Promotoria de Justiça de Chapada dos Guimarães e a Prefeitura de Chapada dos Guimarães.

O programa é uma formação em educação alimentar voltada a professores, nutricionistas, cozinheiras e gestores escolares da rede pública de ensino. A imersão em Chapada dos Guimarães teve início em 2023, com atividades pedagógicas que estimulam a reconexão com o entorno e com as culturas alimentares ancestrais. 

Ao final de duas fases formativas, 40 educadores estavam capacitados a levar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) a suas comunidades escolares, com um alcance de cerca de 1.000 crianças beneficiadas. Em 2025, o programa chegou à sua terceira fase no município, com foco no auxílio à implementação das práticas pedagógicas em educação alimentar idealizadas pelas professoras.

Foto: Quemuel Felipe/ICC

“O projeto Cozinhas e Infâncias trabalha pela educação alimentar e mergulha na cultura culinária local como porta de entrada para o debate da sociobiodiversidade. Ele conecta práticas agrícolas que apoiam a produção de alimentos, identidade e tradições, sabores, saúde, educação e meio ambiente, para motivar e movimentar um espaço político favorável  à sua conservação”, explica Daniella Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais do Instituto Comida e Cultura. 

“Hoje, o Cerrado é nosso bioma mais ameaçado e o projeto convoca educadores do ‘coração do Brasil’ a uma reflexão emancipatória sobre as possibilidades de sistemas alimentares mais saudáveis a partir de uma atitude protagonista e uma nova consciência alimentar”, completa.

No caso de Chapada dos Guimarães, a valorização dos saberes e sabores do Cerrado traduziu-se ainda na atuação do ICC junto à prefeitura para inserção de produtos da sociobiodiversidade na Chamada Pública do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município. No edital de compras de alimentos para a merenda escolar de 2025 figuram o pequi, fruta nativa que é considerada o “ouro do Cerrado”, e a castanha de baru, oleaginosa rica em nutrientes e que também tem origem no bioma.

Para Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública do PNAE representa um grande avanço, pois deve beneficiar as comunidades por meio de geração de renda e valorização das culturas e saberes locais, aliado à conservação do Cerrado. 

“Essa ação representa um primeiro passo necessário para uma jornada maior que visa olhar para a educação alimentar e nutricional nas escolas por meio do fortalecimento dos territórios e da mudança dos cardápios, priorizando os produtos in natura aos ultraprocessados. Nossa expectativa é estimular as comunidades locais e, na sequência, conseguir ampliar a inserção para outros alimentos, como as diversas frutas do Cerrado: mangaba, caju, jatobá, entre outros”, diz Flora.

As negociações para a inserção de alimentos nativos e sociobiodiversos na chamada pública estava em curso desde o fim de 2024. Um levantamento prévio de comunidades e de produtos que estão mais acessíveis no município indicou a viabilidade do baru e da polpa de pequi em um primeiro momento. Com os dados em mãos e em parceria com as nutricionistas responsáveis pelos cardápios da merenda escolar, chegou-se à lista final de alimentos para inserção na chamada pública.

“É importante atuarmos para a formulação das políticas públicas. Fizemos essa incidência na chamada pública e temos outros pontos a considerar sobre a merenda escolar. A merenda é o ponto de confluência, porque não tem como a gente promover educação alimentar nas escolas, estimulando uma alimentação saudável, e fornecer uma alimentação de má qualidade e rica em ultraprocessados”, finaliza Flora.

Respostas de 2

  1. Parabéns por essa notícia. Sou Cecilia Lozano, trabalho no REM MT, que apoio o fortalecimentos das organizações que trabalham com a produção e beneficiamentos dos produtos da sociobiodiversidade!

    Meu filho, estuda numa escola municipal e desconhece essas culturas. Acho extremamente importante, esse trabalho que vcs estão fazendo!

    1. Obrigada por apoiar o nosso trabalho, Cecilia! A Chamada Pública ainda está aberta para o fornecimento de produtos da sociobiodiversidade para as escolas de Chapada dos Guimarães. Se conhecer produtores que possam se interessar, ainda dá tempo de participarem. As incrições podem ser feitas na prefeitura até o dia 10 de junho. Um abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja Parte dessa
mudança.