O TEMPO E A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Por Ligia Amparo-Santos1 Boa tarde a todas as pessoas aqui presentes2, gostaria de agradecer ao convite para participar deste evento, que significa para mim um espaço de compartilhamento de reflexões, saberes e fazeres sobre a Educação Alimentar e Nutricional em tempos de tantas turbulências. Considero ainda mais relevante pois, nestes tempos turbulentos e vertiginosos, a EAN emerge como um dispositivo com congrega um outro tempo, um tempo relacionado a tempo do aprender e este nem sempre é capaz de responder as urgências dos problemas que nos afligem. O aprender se concebe muito mais nas tessituras das micropolíticas, produzindo insurgências nos interstícios da vida e que, por seu turno, devem se fundar no hoje, na hora e na vez da EAN, como se intitula este evento, para produção de outros futuros. Futuros estes que promovam conexões entre comida-corpo-território de um modo mais digno. O título A Hora e a Vez da EAN me instigou a refletir sobre o tempo. Face a isso, permitam-me um breve preambulo para refletir um pouco sobre isso. De súbito, me veio à mente uma publicação quase que ontológica no campo da EAN que é o artigo Educação Nutricional: presente, passado e futuro de Maria Cristina Boog, na Revista da PUCCAMP em 19973. Este foi um texto emblemático no qual a autora afirma a então ainda denominara Educação Nutricional enquanto importante estratégia de ação em Saúde Pública, lembrando ainda que se tratava de uma disciplina obrigatória nos cursos de Nutrição e fazia parte das ações do nutricionista em todos os campos de atuação, como é até os dias atuais. Assim, ela irá percorrer a sua história a partir de documentos internacionais da OMS, OPAS, com o intuito de “propor desafios para os especialistas na área e nutricionistas em geral visando ao desenvolvimento futuro desta área de conhecimento, em benefício da sociedade”. Em suma, trata-se de uma publicação por demais conhecida no campo dos estudiosos e praticantes de EAN, mas aqui eu rememoro tão somente para destacar a atenção que me chamou neste momento o subtítulo – presente, passado e futuro. Fiquei a refletir sobre qual era o imaginário de futuro para a EAN a quase 30 anos atrás, quais aspectos desta fabulação que concretizamos, quais revisitamos e aquelas que ainda precisamos revisitar, como ainda aquelas nem sequer foram possíveis de sonhar. Esse texto me inspirou em outro momento da história, já em 2005, ou seja oito anos após, quando publiquei, também na Revista de Nutrição, um artigo intitulado “Educação alimentar e nutricional no contexto da promoção de práticas alimentares saudáveis”, no qual revisitei documentos das políticas públicas de alimentação e nutrição que estavam sendo elaborados e publicados no Brasil neste período para concluir que a EAN “estava em todos os lugares e, ao mesmo tempo, não estava em lugar nenhum”. Em outras palavras, era muito citada nos documentos algo do tipo “é preciso fazer EAN”, entretanto, as bases epistemológicas, teóricas e práticas em que elas consistiriam eram pouco exploradas. Aqui já estou no tempo da constituição das políticas públicas de alimentação e nutrição, como a PNAN. Já estamos vislumbrando outros projetos de futuro nos quais os governos de esquerda empreenderam políticas de combate à fome e à pobreza, em defesa da soberania e da garantia da segurança alimentar e nutricional. Tempos em que os sonhos de “um mundo sem fome” estavam sendo grafados em ações e sendo inscritas nos papéis, nas mentes e nas práticas. No campo específico da EAN culminou na publicação no Marco de Referência em EAN para políticas públicas5, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Este concretiza parte dos sonhos – alguns ainda como quase devaneios. O “Marco”, como é popularmente denominado, pareceu nos ofertar uma espécie de bússola6 para produzir outros futuros, com outros modos de fazer e importantes consequências foram produzidas, como por exemplo o projeto Ideias na Mesa, Editais de pesquisa específicos para a EAN7. Entretanto, quando já estávamos quase acreditando que o tempo de fazer as coisas acontecerem já estavam “em nossas mãos”, quando tivemos a oportunidade de sonhar, sem medo de ser feliz, com esse “mundo sem fome”, expressado com o comer digno já instituído constitucionalmente como um direito humano, uma inflexão no curso da nossa história interrompe as nossas utopias. O ascenso da extrema direita e os consequentes retrocessos das políticas sociais, a investida radical do neoliberalismo, uma espécie de “Democracia em Vertigem” ou um “Apocalipse dos Trópicos”8, somando-se a emergência de um Colapso Climático, intensificado por um tempo interceptado pela Pandemia de Covid 19 que nos fez solicitar “parar o tempo”, redimensiona os projetos do presente e do futuro. A pandemia, por exemplo, reconfigurou radicalmente as nossas vidas, o nosso modo de pensar o tempo, a relação dos nossos corpos com o território e como habitamos o mundo. A experiência pandêmica produziu marcas em nossas vidas atravessadas por um vírus indomável, cujos efeitos insistimos em esquecer, mas que nos persegue como um fantasma. Vivemos tempos nos quais aos nossos corpos estão impregnados com mais intensidade de sofisticação por um modo de viver quase bélico, referenciado pelos ideais de progresso, da eficiência, eficácia, o mito do produtivismo capitalista tentando invisibilizar que esta é a chave oracular do problema. Alguns de nós, talvez mais atentos ou mais tomados pela vertigem do tempo acelerado que não nos permite conseguir organizar o que nos passava, voltaram a atenção de nossos corpos, ampliando os olhos e ouvidos para múltiplas vozes que já por muito tempo ecoavam sobre o futuro do planeta. Ambientalistas, pensadoras e pensadores indígenas, quilombolas e as cosmologias afrocentradas, outras epistemologias compuseram um fecundo mosaico para compor o que anunciou o congresso em que estive participando na semana atrás, a XV Reunião de Antropologia do Mercosul, que ocorreu em Salvador que se intitulou Retomar o Futuro. Na sociedade moderna, nos acostumados a lidar com o tempo dentro de um ordenamento cronológico delimitado entre o passado presente e futuro. A modernidade enclausurou o tempo recorrendo a tecnologias modernas que buscaram mensurá-lo, no qual relógio pode ser considerado
NOTA DE REPÚDIO | Transporte público não é espaço para propaganda de refrigerante

O Instituto Comida e Cultura manifesta seu profundo repúdio à decisão da Prefeitura de Sorocaba (SP) de distribuir gratuitamente latas de Coca-Cola no transporte público da cidade.
ICC passa a integrar o CRSANS. Mas por que isso importa?

O Instituto Comida e Cultura agora integra a Comissão Regional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de São Paulo. Saiba o que significa essa conquista e por que a Educação Alimentar e Nutricional é fundamental para garantir o direito à alimentação.
Cozinhas & Infâncias inicia nova turma em São Paulo

Até o final do ano, profissionais do ensino fundamental poderão aprender
na teoria e na prática como incluir a educação alimentar no chão da escola
ICC apresenta o projeto Cozinhas & Infâncias no Congresso Internacional de Nutrição em Paris

Entre os dias 24 e 29 de agosto, o Instituto Comida e Cultura marcou presença no Congresso Internacional de Nutrição IUNS-ICN 2025, realizado em Paris. A cofundadora do ICC, Ariela Doctors, apresentou os resultados do projeto Cozinhas & Infâncias, que tem transformado as escolas no Brasil, com práticas que utilizam como base o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB). O evento, historicamente marcado por painéis e discussões limitadas ao campo da nutrição, começa a abrir espaço para uma visão mais ampla e multidisciplinar sobre alimentação, por isso a participação no congresso foi um marco importante para a nossa trajetória. Desta vez, o debate sobre Educação Alimentar e Nutricional (EAN) ganhou relevância em diferentes painéis, com o ICC marcando presença! Essa mudança sinaliza um movimento global que reforça a urgência de repensarmos nossos sistemas alimentares. O trabalho apresentado pelo ICC trouxe para o centro do debate a importância de formar educadores da primeira infância, colocando a alimentação como tema pedagógico e cultural, nos currículos das instituições de ensino. O projeto Cozinhas & Infâncias desenvolveu uma matriz educativa dialógica, com temáticas que percorrem desde o domínio do fogo pela humanidade até a descolonização dos nossos pratos. Essa abordagem alia teoria e prática, estimulando reflexões críticas e atividades escolares alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os resultados da pesquisa também evidenciam avanços concretos. Entre os professores, observou-se aumento nas habilidades culinárias domésticas e no conhecimento sobre o Guia Alimentar. Também foram registradas melhorias nos processos coletivos, mostrando que a formação ampliou não apenas o aprendizado individual, mas também a capacidade de trabalho em grupo. Entre as cozinheiras escolares, parte das turmas também apresentou ganhos significativos nas práticas culinárias e na compreensão do Guia Alimentar. Esses indicadores revelam uma reconexão dos profissionais da educação com a comida de verdade, resgatando o valor da comida e da cultura no chão da escola. Mais do que números, o impacto do projeto reforça a centralidade da Educação Alimentar e Nutricional. Como já discutimos em outros conteúdos do blog do ICC, EAN não é apenas ensinar receitas ou incentivar escolhas mais saudáveis. É um processo de letramento e formação cidadã, que ajuda a compreender as dimensões sociais, culturais, econômicas e ambientais da comida. É também um caminho para garantir autonomia, consciência crítica e respeito à diversidade alimentar. Estar em um dos maiores congresso de nutrição do mundo com esse trabalho foi mais um esforço do ICC para colocar a EAN na pauta de uma agenda internacional. Com a nossa participação, mostramos que é possível transformar paradigmas a partir da escola, aproximando o Guia Alimentar da realidade cotidiana de professores, cozinheiras e, sobretudo, das crianças.
Cozinhas & Infâncias em Sorriso: saiba como foi a nossa jornada no Mato Grosso

O dia 19 de agosto de 2025 marcou o início de mais um ciclo formativo do programa “Cozinhas & Infâncias“, que chega ao município de Sorriso (MT) para conectar alimentação, educação e sustentabilidade de forma prática e reflexiva para os profissionais da rede pública de ensino da cidade. A cozinha do SENAI/Sorriso recebeu professores da educação infantil e ensino fundamental, gestores escolares, coordenadores e nutricionistas da rede para uma experiência que vai além do ambiente tradicional de formação. Durante as atividades práticas, os participantes puderam vivenciar como o ato de cozinhar pode se tornar uma ferramenta pedagógica consistente, por meio da Educação Alimentar e Nutricional. A partir desse primeiro encontro, espera-se que novas possibilidades se abram e que os profissionais participantes percebam o potencial educativo da alimentação. Durante o encontro, ficou evidente como o alimento pode funcionar como elemento articulador de diversos conhecimentos. A abordagem proposta demonstra às crianças as múltiplas conexões presentes no ato de se alimentar, de maneira acessível e prazerosa. Valorização dos saberes locais e ancestrais O diferencial do “Cozinhas & Infâncias” está em sua perspectiva decolonial, que reconhece e valoriza os saberes ancestrais e a diversidade da cultura culinária brasileira. Essa abordagem contribui para que as crianças desenvolvam não apenas práticas alimentares mais conscientes, mas também um maior reconhecimento de sua identidade cultural. Na abertura em Sorriso, também ficou evidente que os adultos também podem (re)descobrir sabores, preparos e alimentos através das vivências oferecidas pelo Programa. Confira alguns depoimentos: Um encontro de agendas Nossa passagem por Sorriso também coincidiu com a realização da 1ª Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. Foi uma oportunidade única de conectar práticas locais com os debates mais amplos sobre a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) e os desafios que atravessam o presente. Na ocasião, Ariela Doctors, cofundadora do Instituto Comida e Cultura, participou trazendo um olhar sobre a urgência de repensar os sistemas alimentares: “Estamos acompanhando as urgências climáticas e elas se sobrepõem porque isso tudo tem a ver com a maneira com que a gente vem se alimentando e conduzindo sistemas alimentares ao longo da história da humanidade. Com isso, é mais do que urgente tratar da EAN desde a infância, para que as crianças tenham a possibilidade de se nutrir, seja com o alimento, seja com ideias, com informações.A nossa missão é formar educadores para que eles levem essa ideia para o chão da escola, para a sala de aula.”, destacou Ariela. Próximos passos do Cozinhas & Infâncias em Sorriso A formação de 40 horas, que se estende até novembro, visa preparar os profissionais para implementar práticas de educação alimentar em suas escolas. Os participantes desenvolvem competências para transformar os espaços de alimentação escolar em ambientes de aprendizado, beneficiando diretamente as crianças do município. “Está sendo uma experiência muito enriquecedora! O curso Cozinhas e Infância me fez repensar a forma de olhar para a alimentação no cotidiano escolar, não só como um ato de nutrição, mas também como momento de aprendizagem, vínculo e afeto. Com as crianças, percebo como elas se interessam em participar dos processos, em explorar cheiros, texturas e sabores. No Cemeis onde trabalho a alimentação é bem rica e diversificada então tento buscar inserir pequenas práticas que valorizem a cultura alimentar e o contato com os alimentos de forma lúdica e significativa. Isso tem aproximado ainda mais as crianças da comida e reforçado a importância desse tema na educação infantil“, revela a professora Jaqueline Macedo, participante da formação. Como próximos passos, o programa estrutura-se em sete módulos que abordam desde “O Caminho do Alimento pelo Mundo” até “Comida na Panela”, contemplando aspectos históricos, culturais, sociais e ambientais da alimentação. Essa abordagem integral permite aos educadores uma compreensão ampla das dimensões que envolvem a alimentação. O programa “Cozinhas & Infâncias” acontece até novembro de 2025, combinando encontros presenciais na cozinha do SENAI/Sorriso com aulas online. A iniciativa resulta da parceria entre Prefeitura de Sorriso, Promotoria, Secretaria de Educação e Instituto Comida e Cultura.
Manifesto pede que alíquotas do imposto seletivo sejam altas o suficiente para reduzir consumo de tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets

Apesar de estar fora dos holofotes, a reforma tributária do consumo ainda não foi concluída. E nesse contexto, especialistas sociedades médicas, grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil lançaram hoje (19/8) o “Manifesto em defesa da saúde na Reforma Tributária”, que pede que a alíquota do imposto seletivo sobre tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets seja alta o suficiente para reduzir seu consumo e as doenças e mortes associadas a esses produtos. O texto completo e lista de signatários está disponível aqui. O documento é assinado por mais de 30 especialistas no campo da saúde e alimentação saudável, como (…) Drauzio Varella, Margareth Dalcomo, Rita Lobo, Bela Gil, Daniel Becker, e ex-ministros como José Gomes Temporão, Arthur Chioro, José Francisco Graziano da Silva, entre outros. Organizado pela ACT Promoção da Saúde, o manifesto conta também com a assinatura de mais de 100 entidades e grupos de pesquisa como (….) como a Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Diabetes, Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), Abeso, Greenpeace Brasil, Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Instituto Alana, entre outras. Impactos na saúde e prejuízos para o Brasil O manifesto chama a atenção para a definição das alíquotas do imposto seletivo, que vai incidir sobre produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets. O governo prepara uma proposta de projeto de lei com a definição das alíquotas, que deve ser enviado nas próximas semanas ao Congresso Nacional. O texto do manifesto relembra que a tributação mais alta de produtos nocivos é uma política adotada por dezenas de países, defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e que pode prevenir doenças, salvar vidas e economizar recursos públicos para o SUS. Estudos mostram que, apenas no Brasil, o consumo de tabaco, álcool e refrigerantes provocam prejuízos de pelo menos R$175 bilhões de reais por ano. Além de trazer dados sobre o impacto negativo do tabaco, álcool e refrigerantes na saúde da população e no meio ambiente, o texto denuncia a pressão das indústrias de produtos nocivos, que buscam influenciar governo e Congresso para que a alíquota do imposto seletivo seja a mais baixa possível. “É por isso que alertamos a sociedade e recomendamos ao Governo e ao Congresso Nacional para que considerem as melhores evidências científicas disponíveis, sem conflito de interesse, e façam cumprir a função constitucional do imposto seletivo de salvar vidas. A saúde da população deve ser protegida a despeito da pressão exercida por indústrias que lucram com o adoecimento do povo brasileiro, e buscam se esquivar da justa tributação”, conclui o manifesto.
A hora e a vez da Educação Alimentar e Nutricional: Seminário foi marcado por um convite à mobilização

Saiba como foi o evento que aconteceu no Instituto de Estudos Avançados da USP
Policy Brief defende Educação Alimentar nas escolas como resposta às epidemias de obesidade e mudanças climáticas

O Instituto Comida e Cultura (ICC) lança manifesto que defende a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como política pública estruturante.
Brasil Fora do Mapa da Fome (de Novo): O Que Isso Nos Ensina

Conteúdo publicado originalmente no Instituto Fome Zero, de autoria de José Graziano da Silva. A edição de 2025 do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI), lançado em 28 de julho em Adis Abeba, confirmou oficialmente o que já vínhamos observando nos últimos dois anos: o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome (MdF) da FAO. A prevalência de subalimentação no país (medida pelo PoU – Prevalence of Undernourishment) caiu para 2,4% no triênio 2022–2024, abaixo do limiar de 2,5% estabelecido pelas Nações Unidas. Mas o PoU não é o melhor indicador para definir se o país está ou não no MdF, pois sofre de falta de dados atualizados, principalmente para o parâmetro do coeficiente de variação da distribuição dos alimentos, que depende da distribuição de renda no país, a qual nem sempre está disponível anualmente. Por isso, há necessidade de fazer atualizações periódicas na série quando essas informações são disponibilizadas, como ocorreu este ano. Além disso, o PoU é um indicador único, agregado a nível nacional, o que, para um país como o Brasil, com profundas disparidades de renda em sua população e entre suas regiões, termina por não dizer muita coisa. Por essas e muitas outras razões, cada vez mais se usa o indicador de insegurança alimentar (INSAN), medido pela escala FIES, similar à nossa EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), que se baseia numa pesquisa de campo realizada nos países-membros da FAO todos os anos. O fato extremamente positivo é que, em 2024, a prevalência de insegurança alimentar moderada + severa na população brasileira caiu abaixo de 10%, tal como já havia acontecido em 2014, quando o país saiu oficialmente do MdF pela primeira vez; e a insegurança alimentar severa afetou apenas 1% da população, tal como também aconteceu em 2014! Esse dado não apenas fecha um ciclo de reconstrução institucional iniciado pelo terceiro governo Lula, em 2023 — como também nos obriga a olhar para trás e refletir sobre as lições aprendidas (e não aprendidas). Tenho memórias vívidas daquele setembro (foto), quando entreguei em mãos à presidenta Dilma Rousseff, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, o reconhecimento oficial de que o Brasil havia erradicado a fome, de acordo com os critérios internacionais vigentes. O país cumpria ali, com dois anos de antecedência, a meta de reduzir à metade a fome estabelecida pelos Objetivos do Milênio (ODM). Era o auge de uma década virtuosa: o Fome Zero havia se tornado política de Estado, o Programa Bolsa Família consolidava-se como modelo internacional de transferência de renda condicionada, e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) havia retomado seu protagonismo participativo. Mas a história não seguiu em linha reta. Leia a reportagem completa no site do Instituto Fome Zero. E confira a entrevista de José Graziano da Silva para o UOL.