Reflexões a partir do Global Forum – Milan Urban Food Policy Pact 2025
por daniella brochado – Co-fundadora do ICC e Coordenadora Pedagógica
para as Relações Étnico-Raciais
Entre os dias 13 e 18 de outubro de 2025, a cidade de Milão recebeu representantes de mais de 250 cidades do mundo para o Global Forum do Milan Urban Food Policy Pact (MUFPP). O encontro celebrou os dez anos do Pacto e reforçou o papel das cidades como protagonistas na construção de sistemas alimentares mais saudáveis, justos e ecológicos.
Entre as diversas mesas e plenárias, acompanhei a sessão “Cities Feeding the Future”, dedicada à iniciativa School Meals Coalition (Coalizão para Alimentação Escolar) — uma aliança global que discute como fortalecer e expandir a alimentação escolar como política pública de transformação social.
A plenária reuniu gestoras (es), pesquisadoras(es) e lideranças mobilizadas por um mesmo propósito: garantir que cada criança tenha acesso a refeições saudáveis, provenientes de sistemas alimentares ecológicos e responsáveis que nutram corpo, cultura e território.
As vozes que se encontraram nesse espaço vinham de diferentes partes do mundo, cada uma trazendo seu contexto e suas práticas locais. Essa diversidade de olhares e o intercâmbio cultural fazem do Fórum um articulador importante, que apresenta formas plurais de pensar a alimentação escolar, apostando que múltiplos caminhos podem dialogar, gerando elos de colaboração e de boas práticas entre cidades que aprendem umas com as outras — mesmo entre culturas alimentares diversas localizadas em geografias e contextos outros.
Entre as falas, Lídia Andrade Lourinho, de Fortaleza (Brasil), trouxe um exemplo potente sobre a força da comida afetiva nas escolas. Ao mencionar o baião-de-dois, lembrou que o arroz e o feijão “falam de casa, de quem somos, de onde viemos” — e que alimentar bem também é cultivar pertencimento e celebrar identidade.
Ao lado de Lídia, no segmento dedicado à iniciativa “Cities Feeding the Future”, foram apresentadas as experiências das chamadas “Champion Mayors”: Semarang (Indonésia), Rufisque (Senegal) e Quezon City (Filipinas). Cada uma mostrou como políticas locais de alimentação escolar podem se tornar instrumentos de envolvimento social, inclusão e permanência.
O Fórum evidenciou que a alimentação escolar extrapola o conceito de nutrição e se derrama em dimensões que atravessam educação, cultura e cuidado, considerando a justiça climática como fator essencial dessa equação.

Entre as perspectivas futuras, destacaram-se:
● o reconhecimento da alimentação escolar como direito fundamental, integrada às agendas de educação, saúde e meio ambiente;
● o fortalecimento das compras públicas locais, conectando escolas à agricultura familiar;
● a criação de mecanismos estáveis de financiamento que garantam continuidade às políticas;
● e a valorização de alimentos regionais e das culturas alimentares afro-indígenas e populares, reduzindo a presença de ultraprocessados nas escolas.
O que se viu em Milão foi um mosaico de práticas que se tocam e se complementam.
De um lado, políticas públicas estruturadas em larga escala; de outro, experiências locais enraizadas na cultura, nos saberes do território, na educação e no afeto.
Nesse caminho, o Instituto Comida e Cultura (ICC) se reconhece como parte de um movimento internacional que afirma a Educação Alimentar em perspectiva decolonial como vetor que garante o direito à alimentação adequada, à saúde, à cultura e ao cuidado, sempre comprometidos com a justiça climática e com a dignidade das infâncias.