Educar sobre comida é educar para a vida: participe da campanha pela Educação Alimentar nas escolas

No Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), o Instituto Comida e Cultura (ICC) lança, junto com o Greenpeace, Instituto Fome Zero, ACT Promoção da Saúde e Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a campanha “A Hora e a Vez da Educação Alimentar” — uma mobilização nacional que convida a sociedade a assinar uma petição online pedindo a implementação efetiva da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nos currículos escolares de todo o país. Então, vaos nessa?! Assine a petição aqui. A Educação Alimentar e Nutricional já é garantida por lei no Brasil desde 2009 (Lei nº 11.947) e reforçada em 2018 (Lei nº 13.666). Mas, na prática, ainda não saiu do papel na maioria das redes de ensino. Ou seja, milhões de crianças e adolescentes seguem sem acesso a conteúdos que os ajudem a compreender de onde vem a comida que consomem, quais são seus direitos e como fazer escolhas mais saudáveis e sustentáveis. “Temos uma legislação avançada, que reconhece a Educação Alimentar como um direito. Mas falta vontade política para tirá-la do papel. Enquanto isso, vemos crianças cada vez mais expostas à publicidade de ultraprocessados, sem acesso a informações críticas sobre alimentação — e isso precisa mudar”, afirma Ariela Doctors, coordenadora geral do Instituto Comida e Cultura. Dia Mundial da Alimentação: um dia de luta O lançamento da campanha no Dia Mundial da Alimentação reforça a urgência de garantir uma política pública que una educação, cultura alimentar, sustentabilidade e cidadania.Isso porque, em um cenário marcado pela sindemia global (conceito que explica o entrelaçamento da obesidade, da desnutrição e das mudanças climáticas), a EAN se apresenta como uma estratégia essencial para enfrentar as desigualdades e fortalecer o direito à alimentação adequada e saudável desde a infância. “A educação alimentar e nutricional pode ser uma estratégia de integração dos componentes curriculares, enriquecendo a aprendizagem e desenvolvendo senso crítico quanto às escolhas alimentares”, destaca Giorgia Russo, especialista do Idec. Inclusive, esta campanha é fruto de uma articulação inédita entre organizações da sociedade civil comprometidas com a soberania alimentar e a educação. O ICC, ao lado de suas alianças, reforça o convite para que educadores, governos e cidadãos se engajem nessa pauta.Educar sobre comida é educar para a vida — e garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas. Educar sobre comida é educar para a vida. Garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas. Junte-se a nós nessa mobilização!

4 conteúdos inspiradores para trabalhar a Educação Alimentar nas escolas

O Dia dos Professores é uma oportunidade para reconhecer e agradecer a toda a rede que circunda a educação de uma criança. Entre tantas dimensões do processo educativo, a alimentação ocupa um lugar fundamental, já que colabora com a formação do ser humano e nos garante uma forma de estar no mundo. Falar sobre o que comemos é também refletir sobre como vivemos, de onde vêm nossos alimentos e quais relações construímos com a terra, com o outro e com a cultura. Por isso, reunimos cinco conteúdos inspiradores para educadores que desejam trabalhar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) de forma transversal e crítica, reconhecendo a comida como um eixo potente de aprendizagem, pertencimento e cidadania. Então, vamos à lista?! 1. Cozinhas & Infâncias — Guia Orientador de educação alimentar e nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães Esse guia foi construído a partir de conversas com as professoras participantes da segunda fase do Programa Cozinhas & Infâncias, promovido pelo Instituto Comida e Cultura com apoio do Ministério Público Estadual e em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Chapada dos Guimarães. Ele visa indicar alternativas possíveis para a implementação de ações transversais para Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. O Guia pretende fomentar ecossistemas de aprendizagens com a ampliação da participação das famílias, escolas, gestores e das comunidades, em busca da promoção da alimentação adequada e saudável nos territórios, ressaltando uma agenda de atividades que valorizem as diferentes expressões da cultura alimentar, fortaleçam hábitos regionais e as dimensões relacionadas a uma comunidade sustentável. Acesse o material completo aqui. 2. Referencial de Educação Alimentar e Nutricional nas Escolas (Rebrae) Elaborado pela Rede Brasileira de Alimentação e Nutrição Escolar (Rebrae), este documento recente apresenta diretrizes, fundamentos teóricos e exemplos práticos de como incluir a EAN nos currículos escolares. É uma leitura essencial para gestores, educadores e profissionais que buscam alinhar suas práticas às políticas públicas de alimentação e nutrição. Acesse o referencial completo. 3. Educação Alimentar e Nutricional – Orientações pedagógicas (Prefeitura de São Paulo) Material dedicado às educadoras e aos educadores com percurso de reflexões sobre a alimentação escolar, que atravessa o tempo e se consolida na sociedade brasileira como direito fundamental de bebês, crianças e estudantes. O intuito da publicação é aliar os estudos sobre alimentação e nutrição nos momentos coletivos de formação, planejamento e replanejamento dos Projetos Político-Pedagógicos. Baixe gratuitamente aqui. 4. Playlist no Youtube – CODAE-SP Essa lista, organizada pelo CODAE-SP, reúne uma série de vídeos curtos e inspiradores sobre o universo da alimentação, da produção ao consumo, passando por temas como cultura alimentar, sustentabilidade e segurança alimentar. É um ótimo material de apoio para professores que queiram enriquecer suas aulas com conteúdos acessíveis e multimídia, ajudando estudantes a refletirem sobre o papel da comida em nossas vidas, nas cidades e no planeta. Acesse a playlist no Youtube do CODAE. Por fim, ao incluir a Educação Alimentar e Nutricional nas escolas, ampliamos o horizonte da aprendizagem e reafirmamos o direito à comida de verdade como parte indissociável do direito à educação. Esperamos que o material seja útil em muitas escolas brasileiras!

De Brasília, boas notícias para a alimentação nas escolas

O Brasil acaba de dar um passo fundamental para fortalecer a alimentação escolar e a agricultura familiar. Isso porque, no dia 30 de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.226/2025, que aumenta de 30% para 45% o percentual mínimo de produtos da agricultura familiar destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A cerimônia no Palácio do Planalto contou com a presença de Ariela Doctors e Erika Fischer, co-fundadoras do Instituto Comida e Cultura, que acompanharam de perto esse momento tão importante para as políticas públicas que regulam a pauta da alimentação no país. Na ocasião, o presidente sancionou outras quatro leis sobre políticas de segurança alimentar. Um salto de 50% na participação da agricultura familiar A mudança legislativa representa um aumento de 50% na participação da agricultura familiar no PNAE, com previsão de movimentar quase R$1 bilhão em compras institucionais. Para o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, os impactos vão além dos números. “Amplia o mercado, aumenta a renda dos agricultores familiares, estimula a produção e a organização coletiva, via cooperativas e associações. Beneficia estudantes com menos ultraprocessados e mais cardápios regionais”, destacou o ministro durante a cerimônia. O que muda na prática? A Lei 15.226/2025 traz duas mudanças importantes para o PNAE: A voz do Instituto Comida e Cultura Para Erika Fischer, Consultora de Relações Institucionais do ICC, a sanção da lei representa um marco para tudo o que o Instituto defende e trabalha: “Os projetos de Educação Alimentar e Nutricional do ICC promovem o conhecimento sobre todo o ciclo do alimento – da terra à mesa, sempre destacando o papel crucial da agricultura familiar para a transformação positiva dos sistemas alimentares. Biodiversidade, cultura alimentar, comida de panela, saúde, circuitos curtos, laços comunitários são alguns dos pilares da agricultura familiar que queremos disseminar como sementes nas escolas por onde passamos.” Inclusive, esta conquista legislativa dialoga  com o trabalho que o Instituto Comida e Cultura vem desenvolvendo em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO): o projeto Casas de Comida, Cultura e Cuidado, que também tem como objetivo fortalecer a Agricultura Familiar e a segurança e soberania alimentar nos territórios, como parte do PLANAB – Plano Nacional de Abastecimento Alimentar. Ainda em desenvolvimento, a ideia do projeto é promover espaços comunitários que promovem a conexão entre agricultura familiar, educação alimentar e segurança nutricional nos territórios. Com o aumento da participação da agricultura familiar no PNAE, fortalecemos toda a cadeia de abastecimento alimentar que os Pontos buscam consolidar. A sanção da Lei 15.226/2025 não é apenas uma vitória numérica. Representa o reconhecimento de que a agricultura familiar é fundamental para garantir alimentação saudável, diversificada e culturalmente apropriada nas escolas do Brasil. Mais do que isso, mostra que políticas públicas bem desenhadas podem transformar realidades: aumentam a renda de agricultores familiares, melhoram a nutrição de milhões de estudantes e fortalecem economias locais. Quer saber mais sobre as Casas de Comida, Cultura e Cuidado?Acompanhe nossos próximos conteúdos aqui no blog e nas redes sociais do Instituto Comida e Cultura!

Instituto Comida e Cultura e IEA promovem seminário sobre Educação Alimentar e Nutricional na USP 

Evento discute o papel estratégico da Educação Alimentar frente à crise climática, às desigualdades sociais e à desinformação  No dia 11 de agosto, acontece o seminário “A Hora e a Vez da EAN”, realizado a partir de uma parceria entre o Instituto Comida e Cultura (ICC) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O evento, que também conta com o apoio da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica da USP, tem como objetivo posicionar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no centro dos debates sobre educação, cultura alimentar, saúde e justiça social. Com painéis e bate-papos entre especialistas para discutir políticas públicas, práticas educativas e o papel da alimentação na promoção da equidade e cidadania, a atividade acontece entre 14h e 18h, no IEA-USP, na Cidade Universitária, com transmissão ao vivo pelo YouTube.  “O evento marca uma articulação potente entre sociedade civil, academia e poder público para fortalecer a educação alimentar e nutricional como prática contínua nas escolas e como política pública de impacto intersetorial. Queremos ampliar essa conversa, sensibilizar gestores e apoiar educadores na construção de uma agenda positiva e transformadora na garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada”, comenta Patrícia Jaime, vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública da USP e pesquisadora do IEA.  Durante o seminário, será lançado o manifesto “A Hora e a Vez da Educação Alimentar”, documento que defende a EAN como política pública estruturante no contexto de sindemia global, que descreve a interseção de múltiplas epidemias como a obesidade, a desnutrição, as doenças crônicas não transmissíveis e as mudanças climáticas. O documento também apresenta sete recomendações aos gestores públicos para implementação efetiva da EAN nas escolas. Consulte o material completo aqui.  O encontro é direcionado a profissionais de educação, saúde e assistência social e agricultura, além de professores, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, gestores públicos e representantes de movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

Educação Alimentar e Nutricional: uma resposta sistêmica à sindemia global

Artigo de Ariela Doctors e Brena Barreto Você já ouviu falar em sindemia? Esse termo está relacionado aos desafios que enfrentamos atualmente na saúde pública, principalmente quando falamos de alimentação, doenças crônicas e mudanças climáticas. Ele também nos ajuda a entender por que a Educação Alimentar e Nutricional (EAN), a Educação Sistêmica, e a Educação Ambiental são necessárias, principalmente na infância. O conceito de sindemia global descreve a interação entre três crises contemporâneas: obesidade, desnutrição e mudanças climáticas¹. Elas coexistem e se potencializam, compartilhando as mesmas causas, como sistemas alimentares insustentáveis e desigualdades sociais. Seus efeitos não são iguais para todas as populações, afetando desproporcionalmente grupos mais vulneráveis, como as crianças. Os efeitos da sindemia global na infância A má alimentação na infância, seja por excesso ou por deficiência de nutrientes, pode comprometer o crescimento físico e o desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. Milhões de crianças em todo o mundo enfrentam simultaneamente as diferentes formas de má nutrição (como desnutrição, obesidade e deficiências nutricionais), em um contexto marcado pelo aumento do consumo de alimentos ultraprocessados. Esses produtos, estão associados a um maior risco de obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis². Somam-se a esse quadro os efeitos dos eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, que impactam a produção de alimentos, dificultando o acesso a alimentos frescos e nutritivos. Crianças que vivem em comunidades de baixa renda e em zonas rurais estão entre as mais impactadas por essa realidade³. Diante dessa complexidade, precisamos de respostas que não se limitem a soluções pontuais ou técnicas. É nesse cenário que a EAN, aliada à Educação Ambiental e à Educação Sistêmica, se torna uma estratégia transformadora. Educação Sistêmica: enxergar as conexões A Educação Sistêmica propõe olhar o mundo de forma integrada4. Em vez de tratar saúde, alimentação, meio ambiente e cultura como temas separados, ela reconhece as interconexões entre eles. Essa abordagem convida escolas a integrarem saberes, territórios e afetos, promovendo uma aprendizagem significativa e comprometida com a vida. Quando aplicada à EAN, a visão sistêmica permite entender que comer não é apenas uma necessidade biológica, mas um ato cultural, político, ambiental e relacional. Ao desenvolver esse olhar nas crianças e jovens, a escola contribui para formar cidadãos conscientes do seu papel na transformação do mundo. A escola como espaço de transformação No Brasil, a Lei nº 11.947/2009 fortaleceu o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)5, garantindo refeições saudáveis na escola e incentivando a compra de alimentos da agricultura familiar. Com a Lei nº 13.666/2018, a EAN passou a fazer parte do currículo escolar, reafirmando seu papel na formação integral. Mas a educação alimentar não se resume a conteúdos sobre nutrientes. Na prática, ela se manifesta em hortas pedagógicas, oficinas de culinária, rodas de conversa, visitas a feiras, projetos sobre agroecologia. Tudo isso ajuda os estudantes a refletirem: o que comemos? De onde vem? Como é produzido? Quem lucra e quem perde nesse processo? Educação alimentar e ambiental: o mesmo caminho A crise ambiental e alimentar têm uma raiz comum: um sistema que desrespeita os ciclos da natureza, os saberes tradicionais e os direitos humanos. Produção intensiva, uso de agrotóxicos, desperdício e emissão de gases de efeito estufa fazem da alimentação um dos principais vetores da destruição ambiental. Por isso, Educação Alimentar e Ambiental precisam andar juntas — e de forma sistêmica. Ao trabalhar com os estudantes os impactos do consumo alimentar, a valorização da cultura local, a importância da sociobiodiversidade e o respeito à terra, a escola contribui para uma mudança de consciência que se traduz em atitudes. Comer é um ato político e relacional Inspirada em Paulo Freire6, a EAN defende o diálogo, a escuta e a valorização das experiências alimentares dos sujeitos. Comer é um ato político, afetivo e identitário. É também um ato de pertencimento: ao corpo, à comunidade, ao território.Frente à sindemia global, uma educação com visão sistêmica é mais do que necessária — é urgente. Ela nos ajuda a compreender o mundo como uma teia de relações vivas, e nos convida a agir com consciência, responsabilidade e empatia.Educar para comer melhor é, também, educar para ser, conviver, transformar, reconhecer e defender direitos. E esse caminho pode começar no cotidiano das escolas! REFERÊNCIAS Sobre as autoras Ariela Doctors é coordenadora-geral e coautora dos processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura, é comunicadora, escritora e chef de cozinha. Membro do Conselho Educação e Território do Instituto Aprendiz, tem ampla experiência em educação sistêmica e cursa mestrado em Nutrição em Saúde Pública na USP. Brena Barreto Barbosa é pesquisadora e mentora do Sustentarea. É Mestra em Nutrição e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará.

Como a educação alimentar se conecta ao meio ambiente?

Desnutrição, doenças crônicas não transmissíveis e a mudança do clima ditam o curso da contemporaneidade e afetam a vida das pessoas por todo o planeta. Trata-se de um cenário que exige ações de curto, médio e longo prazos, com a promoção de uma reconexão com a natureza e proteção das infâncias – as de hoje e as do futuro. A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) se mostra uma importante aliada na construção de sociedades resilientes e saudáveis. Nesse contexto, o Instituto Comida e Cultura (ICC) trabalha a EAN transversalmente, lado a lado com a educação ambiental.  “Sugerimos, primeiramente, olhar para nossos hábitos alimentares e para a realidade do nosso planeta, para então conseguirmos reparar uma reconexão humana com a natureza e com a alimentação saudável e adequada”, defende Daniella Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais do ICC. “Comemos todos os dias para obtermos energia e saúde para viver com qualidade. Ou seja, é um hábito diário e essencial. Por ser um hábito diário, é capaz de se modificar e transformar estruturas e o nosso entorno.”  O ICC acredita no alimento como indutor de uma sociedade sustentável e atua na formação de educadores, promovendo a conscientização sobre os sistemas alimentares e seus impactos na saúde, sociedade e meio ambiente. Ao olhar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é possível encontrar muitas conexões entre alimentação e meio ambiente, de forma que a abordagem que propõe uma educação alimentar e ambiental ganha força. Um exemplo é o ODS 2, que trata de alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição, ao mesmo tempo em que se promove a agricultura sustentável. Ensinar às crianças, desde cedo, o caminho do solo à refeição tem o potencial de prepará-las para um presente e um futuro mais saudáveis e bem nutridos, além de abrir caminhos para o cultivo sustentável dos alimentos. Pense na diferença que atividades pedagógicas em hortas e cozinhas escolares pode causar: plantar, selecionar, colher, preparar, cozinhar e descartar os alimentos na escola são hábitos conectados à vida em comunidade e a como as crianças veem o planeta.   Levar a educação alimentar e ambiental a todas as escolas, desde a educação infantil, promove escolhas mais justas e saudáveis. Segurança e soberania alimentar, produção, transporte, distribuição, acesso, impactos ambientais, culturas alimentares, herança histórica e cultural, além de técnicas e modos de preparo, são temas presentes na construção da educação que precisamos proporcionar às crianças. É por meio dessa educação, completa e transversal, que será possível redesenhar o futuro. Conheça mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que o ICC atrela a seu trabalho em educação alimentar e ambiental nos trechos destacados a seguir: ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. 2.1 Até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano. 2.2 Até 2030, acabar com todas as formas de desnutrição, incluindo atingir, até 2025, as metas acordadas internacionalmente sobre nanismo e caquexia em crianças menores de cinco anos de idade, e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas. 2.3 Até 2030, dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos, particularmente das mulheres, povos indígenas, agricultores familiares, pastores e pescadores, inclusive por meio de acesso seguro e igual à terra, outros recursos produtivos e insumos, conhecimento, serviços financeiros, mercados e oportunidades de agregação de valor e de emprego não agrícola. ODS 3 – Saúde e bem-estar Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades. 3.4 Até 2030, reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar. ODS 4 – Educação de qualidade Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. 4.2 Até 2030, garantir que todos as meninas e meninos tenham acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira infância, cuidados e educação pré-escolar, de modo que eles estejam prontos para o ensino primário. 4.5 Até 2030, eliminar as disparidades de gênero na educação e garantir a igualdade de acesso a todos os níveis de educação e formação profissional para os mais vulneráveis, incluindo as pessoas com deficiência, povos indígenas e as crianças em situação de vulnerabilidade. 4.7 Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável. 4.c Até 2030, substancialmente aumentar o contingente de professores qualificados, inclusive por meio da cooperação internacional para a formação de professores, nos países em desenvolvimento, especialmente os países menos desenvolvidos e pequenos Estados insulares em desenvolvimento. ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. 11.4 Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo. 11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros. 11.b Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis. 11.c Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais

Superar a lógica dos ultraprocessados exige cozinhar mais e debater gênero

Conteúdo publicado originalmente na Folha de S.Paulo, de autoria de Patricia Jaime Por trás da promessa de conveniência, substitui-se a refeição compartilhada pela embalagem unitária, o saber ancestral pela neutralidade tecnológica Alimentos ultraprocessados são produtos industriais que dominam as prateleiras e atravessam culturas. Provocam mudanças nos padrões alimentares em escala global, com elevação do risco para doenças crônicas, como trazido à tona de forma pioneira por pesquisadores brasileiros. Mas é pouco debatida a transformação causada pelas dietas ultraprocessadas nas relações sociais com a comida. Por trás da promessa de conveniência, há um processo silencioso: a substituição da refeição compartilhada pela embalagem unitária; da cozinha pelo microondas; do saber ancestral pela neutralidade tecnológica. O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda: “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados”. Cozinhar, assim, não é só prática cotidiana: é central à promoção da saúde, da sustentabilidade e da cultura alimentar. Contudo, exige tempo, energia e conhecimento —recursos desigualmente distribuídos e pouco valorizados socialmente. É aqui que o debate exige atenção ao gênero. Historicamente, cozinhar tem sido visto como “coisa de mulher“, associado ao cuidado e ao ambiente doméstico. A construção cultural naturalizou a sobrecarga feminina na gestão alimentar e invisibiliza o valor desse trabalho. Dados do IBGE ilustram essa desigualdade: em 2022, entre trabalhadores remunerados, as mulheres dedicavam, em média, 17,8 horas semanais aos afazeres domésticos, contra 11 horas dos homens. Como argumenta Silvia Federici em “Calibã e a Bruxa”, a acumulação primitiva do capitalismo explorou o corpo feminino e desvalorizou saberes ligados ao cuidado —como parir, alimentar, cuidar, cozinhar. O trabalho reprodutivo das mulheres foi historicamente relegado ao espaço privado, fora da lógica do valor econômico. Ainda assim, muitas, sobretudo pretas e pardas, encontraram no cuidado e no trabalho doméstico formas de inserção no mercado de trabalho e sobrevivência. O reconhecimento legal desse trabalho é recente e ainda em construção. Não à toa as habilidades culinárias vêm diminuindo nas gerações mais jovens. Muitas mulheres, conscientes das desigualdades ou exaustas por jornadas duplas, afastam-se da cozinha ou recorrem aos ultraprocessados como alívio diante da sobrecarga. Reverter o cenário de crescente presença dos ultraprocessados na alimentação exige estratégias diversas e sensíveis às desigualdades sociais. Envolve políticas públicas de regulação, rotulagem, educação alimentar e acesso a alimentos saudáveis. Mas exige, sobretudo, reposicionar o debate de gênero como eixo estratégico. Superar a lógica dos ultraprocessados requer uma nova ética do cuidado que valorize cozinhar como bem comum, responsabilidade coletiva e prática transformadora. Resgatar o valor do cozinhar não é retorno nostálgico ao passado, nem nova culpa imposta às mulheres. É reconhecer que o saber tem potência decisiva para a saúde pública e a equidade. Os desafios ambientais e de saúde exigem maior acesso a alimentos saudáveis, não só no lar mas também em locais de trabalho, escolas, hospitais, centros comunitários e espaços de mobilidade. É estratégico posicionar o ato de cozinhar para além da vida privada, transpô-lo ao espaço público, criando alternativas concretas para que todos possam comer comida de verdade, preparada por cozinheiras e cozinheiros valorizados e remunerados por seu trabalho. Leia o artigo completo no site da Folha de S.Paulo.  Sobre a autora Patricia Jaime é nutricionista, professora titular da Faculdade de Saúde Pública da USP, coordenadora científica do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens-USP) e conselheira do Instituto Comida e Cultura.

Educar sobre comida é educar para a vida. Garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas.

Junte-se a nós nessa mobilização!