Governo federal publica documento em apoio à inclusão da Educação Alimentar e Nutricional nas escolas

O governo federal publicou, no dia 29 de maio, uma nota técnica que tem o objetivo de fortalecer a inclusão da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no currículo escolar e no Projeto Político-Pedagógico (PPP). O foco do documento são as escolas públicas da Educação Básica vinculadas ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).  O Instituto Comida e Cultura foi uma das organizações da sociedade civil convidadas a colaborar com a nota, consolidada pela Divisão de Educação Alimentar e Nutricional (DIEAN), que faz parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O documento propõe que sejam seguidas as diretrizes da lei nº 11.947, que regulamentou o PNAE, no que diz respeito à educação alimentar. No Art. 2º, está prevista “a inclusão da Educação Alimentar e Nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional”. A lei nº 13.666 também é referenciada, já que prevê que a EAN seja incluída transversalmente nos currículos escolares, ou seja, que possa fazer parte de toda e qualquer disciplina. Assim, a promoção da alimentação adequada e saudável nas escolas vai além da oferta de refeições nutricionalmente equilibradas. São necessárias práticas pedagógicas que promovam reflexões críticas sobre o que e como comemos, para estimular a autonomia e melhores escolhas alimentares dos estudantes.  O ICC integrou um grupo de trabalho a convite do FNDE desde setembro de 2024, para que o documento fosse construído a muitas mãos com outras entidades, universidades e o governo. “Foi uma oportunidade para o ICC juntar-se a esses atores para debater o tema da inserção da educação alimentar nos currículos e propor orientações para sua viabilização pelas escolas de todo Brasil”, afirma Ariela Doctors, coordenadora-geral do Instituto Comida e Cultura.   A nota técnica reconhece que a inserção da EAN no currículo escolar representa uma oportunidade de integrar, de forma permanente, práticas pedagógicas que promovam a alimentação adequada e saudável no ambiente escolar. Mas há muitos desafios para a plena implementação, como aponta o documento: lacunas na formação dos educadores sobre alimentação, nutrição, o PNAE e a própria EAN; ausência de planejamento específico; escassez de recursos financeiros; entre outros.  A incidência do Instituto Comida e Cultura se dá, justamente, na formação de profissionais da educação em temas transversais à EAN. Em São Paulo, o ICC já formou mais de 1.000 educadores da rede municipal de ensino com o Programa Cozinhas e Infâncias, encorajando-os ao debate sobre educação alimentar e estimulando-os à prática. Cerca de 100 mil estudantes foram potencialmente impactados pelo projeto.  Acesse a nota técnica completa aqui e conheça os princípios e estratégias propostos pelo FNDE para a inclusão da educação alimentar e nutricional no currículo escolar.

Feira de produtores e seminário sobre educação alimentar acontece em Chapada dos Guimarães-MT em julho

Evento gratuito é promovido pelo Instituto Comida e Cultura na Escola Estadual Rafael de Siqueira, com apoio da Prefeitura de Chapada dos Guimarães e do Ministério Público do Mato Grosso O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, recebe o seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” no dia 5 de julho. O evento acontecerá na Escola Estadual Rafael de Siqueira. A programação inclui a apresentação de projetos pedagógicos em Educação Alimentar e Nutricional (EAN), além de uma feira de alimentos da sociobiodiversidade cultivados por produtores locais e atividades pensadas para as crianças. Os projetos em EAN são fruto do Programa Cozinhas e Infâncias na Chapada dos Guimarães, uma formação em educação alimentar voltada para professores, cozinheiras e gestores escolares, promovida pelo Instituto Comida e Cultura (ICC) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. “Com a inserção da educação alimentar na rotina escolar, é possível envolver toda a comunidade, desde a valorização do trabalho das cozinheiras enquanto educadoras, com a introdução de novas receitas, até o incentivo à gestão pública na compra e fomento de alimentos da sociobiodiversidade local. Para que a educação alimentar e nutricional nas escolas seja eficaz, é importante que essas ações sejam contínuas e permanentes”, destaca Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura.  O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” pretende ser uma oportunidade de polinizar as ações das educadoras que fizeram a formação do ICC, para que outros professores da rede municipal se inspirem a desenvolver suas próprias ações pedagógicas em EAN.  “O projeto Cozinhas e Infâncias atua na base da educação alimentar de nossas crianças, trabalhando no ambiente onde elas passam a maior parte do tempo: as escolas. Nesta terceira etapa, o projeto visa fortalecer os profissionais que cozinham nas escolas públicas do município, ensinando técnicas inovadoras com alimentos locais. O objetivo também é reforçar o Guia Alimentar para a População Brasileira nas escolas públicas”, afirma Leandro Volochko, promotor de Justiça de Chapada dos Guimarães. Para Benedito Lechner, secretário municipal de Educação, o projeto do Instituto Comida e Cultura tem sido uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento alimentar educacional de Chapada dos Guimarães, especialmente considerando o perfil da população da zona rural. “Temos vários servidores engajados nesse projeto, alguns participando pela terceira edição, o que demonstra o impacto e a continuidade dessa iniciativa”, avalia.  “Os professores estão adquirindo conhecimentos valiosos sobre os produtos do Cerrado, aprendendo a valorizá-los e a incorporá-los na alimentação escolar. Esse aprendizado já trouxe resultados concretos, como a inclusão do pequi e da farinha de baru no pregão eletrônico da merenda escolar, garantindo que nossos alunos tenham acesso a ingredientes naturais e nutritivos”, completa. Além das apresentações dos projetos das educadoras, a programação do seminário inclui uma mesa redonda sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e haverá distribuição do “Guia Orientador Educação Alimentar e Nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães”, um manual desenvolvido pelo Instituto Comida e Cultura para auxiliar na implementação de práticas pedagógicas que promovam a reconexão com o alimento e o meio ambiente. Atividades para as crianças e a “Feira Sabores e Saberes” completam a agenda, e será possível comprar alimentos direto dos produtores, com foco na biodiversidade local. SERVIÇO: Seminário Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado Feira de produtores com alimentos do Cerrado, atração cultural, rodas de conversa sobre educação alimentar, exibição de filme e atividades para as crianças. Local: Escola Estadual Rafael de Siqueira – Rua Tiradentes, 350, Chapada dos Guimarães/MT Quando: 5 de julho, das 8h às 13h30 Programação completa: 8h às 8h30 – Boas-vindas e abertura da feira8h30 às 10h30 – Apresentação de projetos: Educação Alimentar e Nutricional – Autonomia e Permanência10h30 às 11h – Intervalo com lanche11h às 11h30 – Performance cultural11h30 às 13h30 – Mesa redonda: Programa Nacional de Alimentação Escolar e suas diretrizes na Chapada dos Guimarães Programação para as crianças: 8h30 às 10h30 – Exibição de filme11h às 13h30 – Oficinas pedagógicas e lúdicas Feira Saberes e Sabores (produtores locais): aberta durante todo o evento, das 8h às 13h30.

O paladar infantil é sempre uma proposta adulta

Artigo de Murilo Góes, integrante do projeto ComidaETC O que mais me mobiliza a interagir com os estudos sobre culturas alimentares é o fato de que todos nós precisamos comer. Como seres sociais complexos, escolhemos o que deglutir, sempre que possível; nesse sentido é que desde a infância a comida, além de nutrir nossa fisiologia, torna-se também responsável por desenvolver identidades. Ingredientes e pratos são assimilados a dietas alimentares por fatores históricos, sociológicos, ambientais, econômicos, e, portanto, culturais. A comida também envolve uma série de escolhas relacionadas à preparação e ao consumo que ampliam a cadeia de sentidos. Espelhamos o que comemos, mas também comemos o que simbolicamente reflete nossas identidades. Nessa perspectiva, conversar sobre comida é uma proposta expandida de leituras, em que frequentemente dialogamos com as diversidades e também as adversidades –  sobretudo em geografias marcadas por desigualdades socioeconômicas.  Antes mesmo de ser infantil, o meu paladar, por exemplo, foi perversamente gestado pela industrialização adulta dos anos 90 e literalmente amamentado com muito açúcar, muita gordura, personagens animados, propagandas questionáveis, brindes diversos, status de pertencimento e uma persistente promessa de praticidade para que meus pais preparassem nossas refeições. Diversos já são os estudos demarcadores da relação entre alimentação e saúde. Procuro destacar que o conceito de saúde contempla reflexões sociais de múltiplos horizontes, que incluem sustentabilidade ecológica, bem-estar e identidade cultural – isso se ficarmos apenas em alguns exemplos. Para falar em saúde, no entanto, costumeiramente priorizamos referenciações fundamentadas em doenças. Nesse sentido, sublinho que, desde 1948, a Organização Mundial de Saúde compreende a obesidade como doença crônica, progressiva e recidivante – o que hoje já determina um cenário de epidemia global, afetando também crianças e bebês, por causas variadas e prioritariamente ligadas à alimentação.  Se a comida, portanto, modula uma coletividade em identidades e tradições, defendo que também é possível mobilizar uma cultura a partir das reflexões proporcionadas pela comida nos muitos contextos em que ela é presentificada. Exatamente por isso que pensar na escola como espaço educativo onde há oferta de comida permite considerar inúmeras perspectivas para alimentar o debate.  Analisando dados do Censo Escolar de 2023 relacionados à educação infantil, as dinâmicas de alimentação escolar corroboraram para o desenvolvimento de cerca de 6,8 milhões de crianças atendidas nacionalmente entre creches e pré-escolas. Se parearmos com os dados registrados pelo Censo Demográfico de 2022, concluímos que cerca de 44% do total de crianças brasileiras de até 5 anos alimentam-se nas instituições públicas relativas à primeira etapa da educação básica. Por se relacionar com expressivo percentual de pessoas diretamente impactadas, e considerando que a oferta de refeições acompanha o funcionamento das unidades de educação que acontece, em média, 5 dias por semana, é preciso reconhecer a relevância que a alimentação escolar assume na nutrição, bem como na arquitetônica do paladar e da cultura alimentar de uma densa coletividade de crianças no país.  Alimentação escolar refere-se a “todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo”, conforme definição da lei 11.947, de 2009, que institui as principais diretrizes para o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE. Os textos que delineiam o programa também destacam a relevância de oportunizar práticas para educação alimentar e nutricional, bem como uma oferta de refeições que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis.  Na educação infantil, convém realçar, vivências de alimentação encenam oportunidades para articulação de experiências e de saberes das crianças com conhecimentos que fazem parte dos patrimônios cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico – indicados, por exemplo, na definição de currículo evidenciada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), em 2009. As duas orientações legais aqui citadas posicionam a prática de comensalidade diretamente vinculada a fatores culturais e projetam oportunidade de a Alimentação Escolar ensejar essa lógica. Para isso, além de uma oferta de refeições que supere o conceito de alimentação saudável exclusivamente imbricado a referências nutricionais, torna-se necessário investir em ações de Educação Alimentar e Nutricional que também reconheçam as representações e os conhecimentos associados à sociabilidade do comer.   Entendendo que as normativas expressam movimentos dialógicos, sigo no desejo de que a abordagem sobre cultura alimentar e seus horizontes de possibilidades educativas consiga interagir com iniciativas ligadas à integração das ações de cuidado e de educação com crianças pequenas. Talvez nessa direção possamos redimensionar campos semânticos do “paladar infantil” para que crianças sejam menos impactadas pela mercantilização precarizada de um comer que cada vez mais problematiza índices de qualidade de vida. Sobre o autor Murilo Góes é gastrônomo e professor, mestre em Ensino de Humanidades e doutorando em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Desenvolve eventos e trabalhos artísticos sobre alimentação, além de pesquisas sobre potencialidades educativas da comida.

Cozinhas e Infâncias leva educação alimentar ao Mato Grosso, com resgate da sociobiodiversidade

Primeiro município a receber o programa Cozinhas e Infâncias Territórios, Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, tem o Cerrado estampado em suas ruas, mesas, rostos. O segundo maior bioma brasileiro é repleto de saberes e sabores próprios, e uma cultura alimentar rica e diversa pronta para ganhar espaço nas cozinhas das novas gerações.  Esse resgate da sociobiodiversidade é um dos objetivos do Cozinhas e Infâncias, promovido no território pelo Instituto Comida e Cultura (ICC), em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso, a Promotoria de Justiça de Chapada dos Guimarães e a Prefeitura de Chapada dos Guimarães. O programa é uma formação em educação alimentar voltada a professores, nutricionistas, cozinheiras e gestores escolares da rede pública de ensino. A imersão em Chapada dos Guimarães teve início em 2023, com atividades pedagógicas que estimulam a reconexão com o entorno e com as culturas alimentares ancestrais.  Ao final de duas fases formativas, 40 educadores estavam capacitados a levar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) a suas comunidades escolares, com um alcance de cerca de 1.000 crianças beneficiadas. Em 2025, o programa chegou à sua terceira fase no município, com foco no auxílio à implementação das práticas pedagógicas em educação alimentar idealizadas pelas professoras. “O projeto Cozinhas e Infâncias trabalha pela educação alimentar e mergulha na cultura culinária local como porta de entrada para o debate da sociobiodiversidade. Ele conecta práticas agrícolas que apoiam a produção de alimentos, identidade e tradições, sabores, saúde, educação e meio ambiente, para motivar e movimentar um espaço político favorável  à sua conservação”, explica Daniella Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais do Instituto Comida e Cultura.  “Hoje, o Cerrado é nosso bioma mais ameaçado e o projeto convoca educadores do ‘coração do Brasil’ a uma reflexão emancipatória sobre as possibilidades de sistemas alimentares mais saudáveis a partir de uma atitude protagonista e uma nova consciência alimentar”, completa. No caso de Chapada dos Guimarães, a valorização dos saberes e sabores do Cerrado traduziu-se ainda na atuação do ICC junto à prefeitura para inserção de produtos da sociobiodiversidade na Chamada Pública do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município. No edital de compras de alimentos para a merenda escolar de 2025 figuram o pequi, fruta nativa que é considerada o “ouro do Cerrado”, e a castanha de baru, oleaginosa rica em nutrientes e que também tem origem no bioma. Para Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública do PNAE representa um grande avanço, pois deve beneficiar as comunidades por meio de geração de renda e valorização das culturas e saberes locais, aliado à conservação do Cerrado.  “Essa ação representa um primeiro passo necessário para uma jornada maior que visa olhar para a educação alimentar e nutricional nas escolas por meio do fortalecimento dos territórios e da mudança dos cardápios, priorizando os produtos in natura aos ultraprocessados. Nossa expectativa é estimular as comunidades locais e, na sequência, conseguir ampliar a inserção para outros alimentos, como as diversas frutas do Cerrado: mangaba, caju, jatobá, entre outros”, diz Flora. As negociações para a inserção de alimentos nativos e sociobiodiversos na chamada pública estava em curso desde o fim de 2024. Um levantamento prévio de comunidades e de produtos que estão mais acessíveis no município indicou a viabilidade do baru e da polpa de pequi em um primeiro momento. Com os dados em mãos e em parceria com as nutricionistas responsáveis pelos cardápios da merenda escolar, chegou-se à lista final de alimentos para inserção na chamada pública. “É importante atuarmos para a formulação das políticas públicas. Fizemos essa incidência na chamada pública e temos outros pontos a considerar sobre a merenda escolar. A merenda é o ponto de confluência, porque não tem como a gente promover educação alimentar nas escolas, estimulando uma alimentação saudável, e fornecer uma alimentação de má qualidade e rica em ultraprocessados”, finaliza Flora.

O septuagenário de um aliado das infâncias brasileiras: PNAE completa 70 anos em 2025 e beneficia cerca de 41 milhões de estudantes no país

Autoras: Erika Fischer¹ e Jaqueline Lopes Pereira² Toda criança e adolescente tem direito à alimentação adequada, à saúde, à educação e ao desenvolvimento pleno, garantias consagradas na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e em tratados internacionais. No entanto, quando observamos os indicadores relacionados à má nutrição no país, percebemos que ainda estamos longe de garantir esses direitos a todas as infâncias brasileiras. A insegurança alimentar é mais prevalente em domicílios onde vivem crianças e adolescentes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, cerca de um terço desses lares conviviam com algum grau de insegurança alimentar. Desses, quase 5% enfrentavam a fome. Ao mesmo tempo, dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) de 2023 estimam que 14% dos menores de cinco anos e 34% daqueles entre 5 e 19 anos estavam com excesso de peso. Essa dupla carga da má nutrição revela um paradoxo alarmante, que exige ações articuladas entre diferentes setores envolvidos nos sistemas alimentares. Nesse contexto, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) destaca-se como uma das principais políticas de proteção social, sendo o segundo maior programa de alimentação escolar do mundo e o mais antigo do Brasil. Seu objetivo é promover o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem e hábitos saudáveis por meio de refeições balanceadas e ações educativas. Criado em 1955, o PNAE atende de forma universal e gratuita alunos da educação infantil, fundamental, médio e EJA em escolas públicas, filantrópicas e comunitárias. Suas diretrizes consideram diversidades étnicas, necessidades nutricionais por idade e vulnerabilidade social, com repasses de recursos diferenciados para educação infantil, indígenas e quilombolas.  Com um orçamento anual superior a R$ 6 bilhões, o PNAE mobiliza uma ampla estrutura para acontecer: são aproximadamente sete mil nutricionistas e 90 mil conselheiros atuando na fiscalização do programa. Essa engrenagem beneficia cerca de 41 milhões de estudantes (o que representa 20% da população brasileira), em mais de 150 mil escolas, garantindo diariamente 50 milhões de refeições. A Lei nº 11.947/2009 foi um marco, assegurando atendimento universal em 200 dias letivos, incluindo educação alimentar no currículo, controle social e diretrizes nutricionais, como suprir 20% das necessidades nutricionais diárias dos alunos. O PNAE também promove a aquisição de alimentos da agricultura familiar (mínimo 30% dos recursos), regionais, da sociobiodiversidade, orgânicos e agroecológicos, fortalecendo a economia local e a agroecologia. Em 2025, a Resolução CD/FNDE nº 3 atualizou as diretrizes nutricionais do programa, determinando que ao menos 80% dos recursos sejam destinados à compra de alimentos in natura ou minimamente processados, percentual que sobe para 85% em 2026. Já os alimentos ultraprocessados ficam limitados a 15% (10% a partir de 2026), e os ingredientes culinários, a 5%. A norma também recomenda evitar produtos com rotulagem frontal de alto teor de nutrientes críticos e valoriza a diversidade alimentar, ao incentivar que cada município adquira ao menos 50 tipos diferentes de alimentos in natura por ano.  Apesar dos desafios que enfrenta, o PNAE é uma estratégia central para transformar os sistemas alimentares com foco na equidade, sustentabilidade e respeito à cultura alimentar. Suas ações integram políticas de nutrição, educação, agricultura e saúde pública, impactando diretamente milhões de estudantes e promovendo a defesa e ampliação dos direitos das infâncias. Com articulação intersetorial, o programa combate a fome e a insegurança alimentar, promove educação e desenvolvimento sustentável, valoriza a sociobiodiversidade e fortalece o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), contribuindo para que os sistemas alimentares sejam ferramentas reais de garantia e promoção dos direitos de todas as infâncias. ¹Erika Fischer é gestora pública especializada em programas de alimentação escolar e segurança alimentar e atua como consultora de relações institucionais do Instituto Comida e Cultura (ICC). É responsável pelo desenvolvimento de parcerias e apoia processos de monitoramento e avaliação do ICC. ²Jaqueline Lopes Pereira é pesquisadora e mentora do Sustentarea. É pós-doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, graduada em Nutrição, Mestre e Doutora em Ciências pela mesma instituição na área de Nutrição em Saúde Pública, com doutorado sanduíche no Departamento de Nutrição da Harvard T. H. Chan School of Public Health.

Instituto Comida e Cultura integra coalizão global para fortalecer a alimentação escolar

A School Meals Coalition é uma iniciativa de cooperação entre países, sociedade civil e instituições acadêmicas para proteger as infâncias e garantir o desenvolvimento sustentável por meio de melhorias na alimentação escolar A educação alimentar interfere diretamente naalimentação escolar, além de se relacionar com o desenho de políticas públicas educacionais e alimentares e com a construção de sistemas alimentares mais justos e sustentáveis. Com base nessas sinergias, o Instituto Comida e Cultura (ICC) passa a integrar a lista de parceiros da School Meals Coalition (“Coalizão da Alimentação Escolar”, em tradução livre do inglês), ao lado de mais de 140 instituições de todo o mundo.  A School Meals Coalition promove ações para melhorar e ampliar os programas de alimentação escolar para garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de receber refeições saudáveis e nutritivas nas escolas. A coalizão é coordenada pelo Programa Mundial de Alimentos (WFP) e colabora com as metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil é um dos líderes da coalizão, junto da Finlândia e da França. A alimentação escolar é uma importante política pública no país e, desde 1955, há programas de fornecimento de merenda às crianças brasileiras da rede pública de ensino. Esse movimento culminou com a criação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em 1976, que está em funcionamento até hoje. O PNAE prevê o fornecimento de ao menos uma refeição diária durante o período letivo (180 dias/ano) a todos os alunos matriculados na rede pública e filantrópica de ensino. Um dos principais objetivos da School Meals Coalition é melhorar a qualidade e a eficiência dos programas de saúde e nutrição escolar em todo o mundo até 2030. A alimentação escolar representa uma ferramenta multissetorial poderosa, que pode contribuir para atingir vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo diminuição da pobreza (ODS1), mitigação da fome (ODS2), saúde (ODS3), educação (ODS4), igualdade de gênero (ODS5), crescimento econômico (ODS8), redução das desigualdades (ODS10), consumo e produção responsáveis ​​(ODS12), ação climática (ODS13) e parcerias fortalecidas (ODS17). “O fortalecimento do PNAE é fundamental para atingirmos esses objetivos no Brasil, e acreditamos na Educação Alimentar e Nutricional (EAN) como um dos caminhos para ampliar a conexão com os alimentos de produção local e agroecológica”, explica Ariela Doctors, coordenadora-geral e cofundadora do ICC. “A comunidade escolar precisa estar preparada para receber esses alimentos frescos e mais saudáveis, e para atuar na educação alimentar das nossas crianças. Por isso, o Instituto trabalha para criar e compartilhar soluções replicáveis nas escolas públicas brasileiras”, completa. Em 2025, o encontro global da School Meals Coalition acontece em Fortaleza, capital do Ceará, entre os dias 18 e 19 de setembro. Serão apresentadas iniciativas de parceiros da coalizão e propostas de ações pelos países-membros.  Além do papel imediato para a segurança alimentar de famílias pobres, os programas de alimentação escolar têm benefícios associados, como a promoção de EAN, a possibilidade de redução dos índices de doenças não transmissíveis entre crianças em idade escolar, como anemia e obesidade, e a promoção da cadeia de suprimentos local, favorecendo a agricultura familiar e de base agroecológica.  “É fundamental unirmos forças agora para melhorar a saúde das nossas crianças, aumentar a resiliência das comunidades e contribuir para um sistema alimentar mais justo e sustentável”, afirma Bela Gil, cofundadora do Instituto Comida e Cultura. Para saber mais sobre a coalizão, acesse o site (conteúdo em inglês).