Educar sobre comida é educar para a vida: participe da campanha pela Educação Alimentar nas escolas

No Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro), o Instituto Comida e Cultura (ICC) lança, junto com o Greenpeace, Instituto Fome Zero, ACT Promoção da Saúde e Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a campanha “A Hora e a Vez da Educação Alimentar” — uma mobilização nacional que convida a sociedade a assinar uma petição online pedindo a implementação efetiva da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nos currículos escolares de todo o país. Então, vaos nessa?! Assine a petição aqui. A Educação Alimentar e Nutricional já é garantida por lei no Brasil desde 2009 (Lei nº 11.947) e reforçada em 2018 (Lei nº 13.666). Mas, na prática, ainda não saiu do papel na maioria das redes de ensino. Ou seja, milhões de crianças e adolescentes seguem sem acesso a conteúdos que os ajudem a compreender de onde vem a comida que consomem, quais são seus direitos e como fazer escolhas mais saudáveis e sustentáveis. “Temos uma legislação avançada, que reconhece a Educação Alimentar como um direito. Mas falta vontade política para tirá-la do papel. Enquanto isso, vemos crianças cada vez mais expostas à publicidade de ultraprocessados, sem acesso a informações críticas sobre alimentação — e isso precisa mudar”, afirma Ariela Doctors, coordenadora geral do Instituto Comida e Cultura. Dia Mundial da Alimentação: um dia de luta O lançamento da campanha no Dia Mundial da Alimentação reforça a urgência de garantir uma política pública que una educação, cultura alimentar, sustentabilidade e cidadania.Isso porque, em um cenário marcado pela sindemia global (conceito que explica o entrelaçamento da obesidade, da desnutrição e das mudanças climáticas), a EAN se apresenta como uma estratégia essencial para enfrentar as desigualdades e fortalecer o direito à alimentação adequada e saudável desde a infância. “A educação alimentar e nutricional pode ser uma estratégia de integração dos componentes curriculares, enriquecendo a aprendizagem e desenvolvendo senso crítico quanto às escolhas alimentares”, destaca Giorgia Russo, especialista do Idec. Inclusive, esta campanha é fruto de uma articulação inédita entre organizações da sociedade civil comprometidas com a soberania alimentar e a educação. O ICC, ao lado de suas alianças, reforça o convite para que educadores, governos e cidadãos se engajem nessa pauta.Educar sobre comida é educar para a vida — e garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas. Educar sobre comida é educar para a vida. Garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas. Junte-se a nós nessa mobilização!

4 conteúdos inspiradores para trabalhar a Educação Alimentar nas escolas

O Dia dos Professores é uma oportunidade para reconhecer e agradecer a toda a rede que circunda a educação de uma criança. Entre tantas dimensões do processo educativo, a alimentação ocupa um lugar fundamental, já que colabora com a formação do ser humano e nos garante uma forma de estar no mundo. Falar sobre o que comemos é também refletir sobre como vivemos, de onde vêm nossos alimentos e quais relações construímos com a terra, com o outro e com a cultura. Por isso, reunimos cinco conteúdos inspiradores para educadores que desejam trabalhar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) de forma transversal e crítica, reconhecendo a comida como um eixo potente de aprendizagem, pertencimento e cidadania. Então, vamos à lista?! 1. Cozinhas & Infâncias — Guia Orientador de educação alimentar e nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães Esse guia foi construído a partir de conversas com as professoras participantes da segunda fase do Programa Cozinhas & Infâncias, promovido pelo Instituto Comida e Cultura com apoio do Ministério Público Estadual e em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Chapada dos Guimarães. Ele visa indicar alternativas possíveis para a implementação de ações transversais para Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. O Guia pretende fomentar ecossistemas de aprendizagens com a ampliação da participação das famílias, escolas, gestores e das comunidades, em busca da promoção da alimentação adequada e saudável nos territórios, ressaltando uma agenda de atividades que valorizem as diferentes expressões da cultura alimentar, fortaleçam hábitos regionais e as dimensões relacionadas a uma comunidade sustentável. Acesse o material completo aqui. 2. Referencial de Educação Alimentar e Nutricional nas Escolas (Rebrae) Elaborado pela Rede Brasileira de Alimentação e Nutrição Escolar (Rebrae), este documento recente apresenta diretrizes, fundamentos teóricos e exemplos práticos de como incluir a EAN nos currículos escolares. É uma leitura essencial para gestores, educadores e profissionais que buscam alinhar suas práticas às políticas públicas de alimentação e nutrição. Acesse o referencial completo. 3. Educação Alimentar e Nutricional – Orientações pedagógicas (Prefeitura de São Paulo) Material dedicado às educadoras e aos educadores com percurso de reflexões sobre a alimentação escolar, que atravessa o tempo e se consolida na sociedade brasileira como direito fundamental de bebês, crianças e estudantes. O intuito da publicação é aliar os estudos sobre alimentação e nutrição nos momentos coletivos de formação, planejamento e replanejamento dos Projetos Político-Pedagógicos. Baixe gratuitamente aqui. 4. Playlist no Youtube – CODAE-SP Essa lista, organizada pelo CODAE-SP, reúne uma série de vídeos curtos e inspiradores sobre o universo da alimentação, da produção ao consumo, passando por temas como cultura alimentar, sustentabilidade e segurança alimentar. É um ótimo material de apoio para professores que queiram enriquecer suas aulas com conteúdos acessíveis e multimídia, ajudando estudantes a refletirem sobre o papel da comida em nossas vidas, nas cidades e no planeta. Acesse a playlist no Youtube do CODAE. Por fim, ao incluir a Educação Alimentar e Nutricional nas escolas, ampliamos o horizonte da aprendizagem e reafirmamos o direito à comida de verdade como parte indissociável do direito à educação. Esperamos que o material seja útil em muitas escolas brasileiras!

De Brasília, boas notícias para a alimentação nas escolas

O Brasil acaba de dar um passo fundamental para fortalecer a alimentação escolar e a agricultura familiar. Isso porque, no dia 30 de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 15.226/2025, que aumenta de 30% para 45% o percentual mínimo de produtos da agricultura familiar destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A cerimônia no Palácio do Planalto contou com a presença de Ariela Doctors e Erika Fischer, co-fundadoras do Instituto Comida e Cultura, que acompanharam de perto esse momento tão importante para as políticas públicas que regulam a pauta da alimentação no país. Na ocasião, o presidente sancionou outras quatro leis sobre políticas de segurança alimentar. Um salto de 50% na participação da agricultura familiar A mudança legislativa representa um aumento de 50% na participação da agricultura familiar no PNAE, com previsão de movimentar quase R$1 bilhão em compras institucionais. Para o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, os impactos vão além dos números. “Amplia o mercado, aumenta a renda dos agricultores familiares, estimula a produção e a organização coletiva, via cooperativas e associações. Beneficia estudantes com menos ultraprocessados e mais cardápios regionais”, destacou o ministro durante a cerimônia. O que muda na prática? A Lei 15.226/2025 traz duas mudanças importantes para o PNAE: A voz do Instituto Comida e Cultura Para Erika Fischer, Consultora de Relações Institucionais do ICC, a sanção da lei representa um marco para tudo o que o Instituto defende e trabalha: “Os projetos de Educação Alimentar e Nutricional do ICC promovem o conhecimento sobre todo o ciclo do alimento – da terra à mesa, sempre destacando o papel crucial da agricultura familiar para a transformação positiva dos sistemas alimentares. Biodiversidade, cultura alimentar, comida de panela, saúde, circuitos curtos, laços comunitários são alguns dos pilares da agricultura familiar que queremos disseminar como sementes nas escolas por onde passamos.” Inclusive, esta conquista legislativa dialoga  com o trabalho que o Instituto Comida e Cultura vem desenvolvendo em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO): o projeto Casas de Comida, Cultura e Cuidado, que também tem como objetivo fortalecer a Agricultura Familiar e a segurança e soberania alimentar nos territórios, como parte do PLANAB – Plano Nacional de Abastecimento Alimentar. Ainda em desenvolvimento, a ideia do projeto é promover espaços comunitários que promovem a conexão entre agricultura familiar, educação alimentar e segurança nutricional nos territórios. Com o aumento da participação da agricultura familiar no PNAE, fortalecemos toda a cadeia de abastecimento alimentar que os Pontos buscam consolidar. A sanção da Lei 15.226/2025 não é apenas uma vitória numérica. Representa o reconhecimento de que a agricultura familiar é fundamental para garantir alimentação saudável, diversificada e culturalmente apropriada nas escolas do Brasil. Mais do que isso, mostra que políticas públicas bem desenhadas podem transformar realidades: aumentam a renda de agricultores familiares, melhoram a nutrição de milhões de estudantes e fortalecem economias locais. Quer saber mais sobre as Casas de Comida, Cultura e Cuidado?Acompanhe nossos próximos conteúdos aqui no blog e nas redes sociais do Instituto Comida e Cultura!

Manifesto pede que alíquotas do imposto seletivo sejam altas o suficiente para reduzir consumo de tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets

Apesar de estar fora dos holofotes, a reforma tributária do consumo ainda não foi concluída. E nesse contexto, especialistas sociedades médicas, grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil lançaram hoje (19/8) o “Manifesto em defesa da saúde na Reforma Tributária”, que pede que a alíquota do imposto seletivo sobre tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets seja alta o suficiente para reduzir seu consumo e as doenças e mortes associadas a esses produtos. O texto completo e lista de signatários está disponível aqui. O documento é assinado por mais de 30 especialistas no campo da saúde e alimentação saudável, como (…) Drauzio Varella, Margareth Dalcomo, Rita Lobo, Bela Gil, Daniel Becker, e ex-ministros como José Gomes Temporão, Arthur Chioro, José Francisco Graziano da Silva, entre outros. Organizado pela ACT Promoção da Saúde, o manifesto conta também com a assinatura de mais de 100 entidades e grupos de pesquisa como (….) como a Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Diabetes, Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), Abeso, Greenpeace Brasil, Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Instituto Alana, entre outras. Impactos na saúde e prejuízos para o Brasil  O manifesto chama a atenção para a definição das alíquotas do imposto seletivo, que vai incidir sobre produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como tabaco, álcool, bebidas açucaradas e bets. O governo prepara uma proposta de projeto de lei com a definição das alíquotas, que deve ser enviado nas próximas semanas ao Congresso Nacional.  O texto do manifesto relembra que a tributação mais alta de produtos nocivos é uma política adotada por dezenas de países, defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e que pode prevenir doenças, salvar vidas e economizar recursos públicos para o SUS. Estudos mostram que, apenas no Brasil, o consumo de tabaco, álcool e refrigerantes provocam prejuízos de pelo menos R$175 bilhões de reais por ano.  Além de trazer dados sobre o impacto negativo do tabaco, álcool e refrigerantes na saúde da população e no meio ambiente, o texto denuncia a pressão das indústrias de produtos nocivos, que buscam influenciar governo e Congresso para que a alíquota do imposto seletivo seja a mais baixa possível. “É por isso que alertamos a sociedade e recomendamos ao Governo e ao Congresso Nacional para que considerem as melhores evidências científicas disponíveis, sem conflito de interesse, e façam cumprir a função constitucional do imposto seletivo de salvar vidas. A saúde da população deve ser protegida a despeito da pressão exercida por indústrias que lucram com o adoecimento do povo brasileiro, e buscam se esquivar da justa tributação”, conclui o manifesto. 

Instituto Comida e Cultura e IEA promovem seminário sobre Educação Alimentar e Nutricional na USP 

Evento discute o papel estratégico da Educação Alimentar frente à crise climática, às desigualdades sociais e à desinformação  No dia 11 de agosto, acontece o seminário “A Hora e a Vez da EAN”, realizado a partir de uma parceria entre o Instituto Comida e Cultura (ICC) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O evento, que também conta com o apoio da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica da USP, tem como objetivo posicionar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no centro dos debates sobre educação, cultura alimentar, saúde e justiça social. Com painéis e bate-papos entre especialistas para discutir políticas públicas, práticas educativas e o papel da alimentação na promoção da equidade e cidadania, a atividade acontece entre 14h e 18h, no IEA-USP, na Cidade Universitária, com transmissão ao vivo pelo YouTube.  “O evento marca uma articulação potente entre sociedade civil, academia e poder público para fortalecer a educação alimentar e nutricional como prática contínua nas escolas e como política pública de impacto intersetorial. Queremos ampliar essa conversa, sensibilizar gestores e apoiar educadores na construção de uma agenda positiva e transformadora na garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada”, comenta Patrícia Jaime, vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública da USP e pesquisadora do IEA.  Durante o seminário, será lançado o manifesto “A Hora e a Vez da Educação Alimentar”, documento que defende a EAN como política pública estruturante no contexto de sindemia global, que descreve a interseção de múltiplas epidemias como a obesidade, a desnutrição, as doenças crônicas não transmissíveis e as mudanças climáticas. O documento também apresenta sete recomendações aos gestores públicos para implementação efetiva da EAN nas escolas. Consulte o material completo aqui.  O encontro é direcionado a profissionais de educação, saúde e assistência social e agricultura, além de professores, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, gestores públicos e representantes de movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

Feira de produtores e seminário sobre educação alimentar acontece em Chapada dos Guimarães-MT em julho

Evento gratuito é promovido pelo Instituto Comida e Cultura na Escola Estadual Rafael de Siqueira, com apoio da Prefeitura de Chapada dos Guimarães e do Ministério Público do Mato Grosso O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, recebe o seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” no dia 5 de julho. O evento acontecerá na Escola Estadual Rafael de Siqueira. A programação inclui a apresentação de projetos pedagógicos em Educação Alimentar e Nutricional (EAN), além de uma feira de alimentos da sociobiodiversidade cultivados por produtores locais e atividades pensadas para as crianças. Os projetos em EAN são fruto do Programa Cozinhas e Infâncias na Chapada dos Guimarães, uma formação em educação alimentar voltada para professores, cozinheiras e gestores escolares, promovida pelo Instituto Comida e Cultura (ICC) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. “Com a inserção da educação alimentar na rotina escolar, é possível envolver toda a comunidade, desde a valorização do trabalho das cozinheiras enquanto educadoras, com a introdução de novas receitas, até o incentivo à gestão pública na compra e fomento de alimentos da sociobiodiversidade local. Para que a educação alimentar e nutricional nas escolas seja eficaz, é importante que essas ações sejam contínuas e permanentes”, destaca Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura.  O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” pretende ser uma oportunidade de polinizar as ações das educadoras que fizeram a formação do ICC, para que outros professores da rede municipal se inspirem a desenvolver suas próprias ações pedagógicas em EAN.  “O projeto Cozinhas e Infâncias atua na base da educação alimentar de nossas crianças, trabalhando no ambiente onde elas passam a maior parte do tempo: as escolas. Nesta terceira etapa, o projeto visa fortalecer os profissionais que cozinham nas escolas públicas do município, ensinando técnicas inovadoras com alimentos locais. O objetivo também é reforçar o Guia Alimentar para a População Brasileira nas escolas públicas”, afirma Leandro Volochko, promotor de Justiça de Chapada dos Guimarães. Para Benedito Lechner, secretário municipal de Educação, o projeto do Instituto Comida e Cultura tem sido uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento alimentar educacional de Chapada dos Guimarães, especialmente considerando o perfil da população da zona rural. “Temos vários servidores engajados nesse projeto, alguns participando pela terceira edição, o que demonstra o impacto e a continuidade dessa iniciativa”, avalia.  “Os professores estão adquirindo conhecimentos valiosos sobre os produtos do Cerrado, aprendendo a valorizá-los e a incorporá-los na alimentação escolar. Esse aprendizado já trouxe resultados concretos, como a inclusão do pequi e da farinha de baru no pregão eletrônico da merenda escolar, garantindo que nossos alunos tenham acesso a ingredientes naturais e nutritivos”, completa. Além das apresentações dos projetos das educadoras, a programação do seminário inclui uma mesa redonda sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e haverá distribuição do “Guia Orientador Educação Alimentar e Nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães”, um manual desenvolvido pelo Instituto Comida e Cultura para auxiliar na implementação de práticas pedagógicas que promovam a reconexão com o alimento e o meio ambiente. Atividades para as crianças e a “Feira Sabores e Saberes” completam a agenda, e será possível comprar alimentos direto dos produtores, com foco na biodiversidade local. SERVIÇO: Seminário Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado Feira de produtores com alimentos do Cerrado, atração cultural, rodas de conversa sobre educação alimentar, exibição de filme e atividades para as crianças. Local: Escola Estadual Rafael de Siqueira – Rua Tiradentes, 350, Chapada dos Guimarães/MT Quando: 5 de julho, das 8h às 13h30 Programação completa: 8h às 8h30 – Boas-vindas e abertura da feira8h30 às 10h30 – Apresentação de projetos: Educação Alimentar e Nutricional – Autonomia e Permanência10h30 às 11h – Intervalo com lanche11h às 11h30 – Performance cultural11h30 às 13h30 – Mesa redonda: Programa Nacional de Alimentação Escolar e suas diretrizes na Chapada dos Guimarães Programação para as crianças: 8h30 às 10h30 – Exibição de filme11h às 13h30 – Oficinas pedagógicas e lúdicas Feira Saberes e Sabores (produtores locais): aberta durante todo o evento, das 8h às 13h30.

O paladar infantil é sempre uma proposta adulta

Artigo de Murilo Góes, integrante do projeto ComidaETC O que mais me mobiliza a interagir com os estudos sobre culturas alimentares é o fato de que todos nós precisamos comer. Como seres sociais complexos, escolhemos o que deglutir, sempre que possível; nesse sentido é que desde a infância a comida, além de nutrir nossa fisiologia, torna-se também responsável por desenvolver identidades. Ingredientes e pratos são assimilados a dietas alimentares por fatores históricos, sociológicos, ambientais, econômicos, e, portanto, culturais. A comida também envolve uma série de escolhas relacionadas à preparação e ao consumo que ampliam a cadeia de sentidos. Espelhamos o que comemos, mas também comemos o que simbolicamente reflete nossas identidades. Nessa perspectiva, conversar sobre comida é uma proposta expandida de leituras, em que frequentemente dialogamos com as diversidades e também as adversidades –  sobretudo em geografias marcadas por desigualdades socioeconômicas.  Antes mesmo de ser infantil, o meu paladar, por exemplo, foi perversamente gestado pela industrialização adulta dos anos 90 e literalmente amamentado com muito açúcar, muita gordura, personagens animados, propagandas questionáveis, brindes diversos, status de pertencimento e uma persistente promessa de praticidade para que meus pais preparassem nossas refeições. Diversos já são os estudos demarcadores da relação entre alimentação e saúde. Procuro destacar que o conceito de saúde contempla reflexões sociais de múltiplos horizontes, que incluem sustentabilidade ecológica, bem-estar e identidade cultural – isso se ficarmos apenas em alguns exemplos. Para falar em saúde, no entanto, costumeiramente priorizamos referenciações fundamentadas em doenças. Nesse sentido, sublinho que, desde 1948, a Organização Mundial de Saúde compreende a obesidade como doença crônica, progressiva e recidivante – o que hoje já determina um cenário de epidemia global, afetando também crianças e bebês, por causas variadas e prioritariamente ligadas à alimentação.  Se a comida, portanto, modula uma coletividade em identidades e tradições, defendo que também é possível mobilizar uma cultura a partir das reflexões proporcionadas pela comida nos muitos contextos em que ela é presentificada. Exatamente por isso que pensar na escola como espaço educativo onde há oferta de comida permite considerar inúmeras perspectivas para alimentar o debate.  Analisando dados do Censo Escolar de 2023 relacionados à educação infantil, as dinâmicas de alimentação escolar corroboraram para o desenvolvimento de cerca de 6,8 milhões de crianças atendidas nacionalmente entre creches e pré-escolas. Se parearmos com os dados registrados pelo Censo Demográfico de 2022, concluímos que cerca de 44% do total de crianças brasileiras de até 5 anos alimentam-se nas instituições públicas relativas à primeira etapa da educação básica. Por se relacionar com expressivo percentual de pessoas diretamente impactadas, e considerando que a oferta de refeições acompanha o funcionamento das unidades de educação que acontece, em média, 5 dias por semana, é preciso reconhecer a relevância que a alimentação escolar assume na nutrição, bem como na arquitetônica do paladar e da cultura alimentar de uma densa coletividade de crianças no país.  Alimentação escolar refere-se a “todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo”, conforme definição da lei 11.947, de 2009, que institui as principais diretrizes para o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE. Os textos que delineiam o programa também destacam a relevância de oportunizar práticas para educação alimentar e nutricional, bem como uma oferta de refeições que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis.  Na educação infantil, convém realçar, vivências de alimentação encenam oportunidades para articulação de experiências e de saberes das crianças com conhecimentos que fazem parte dos patrimônios cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico – indicados, por exemplo, na definição de currículo evidenciada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), em 2009. As duas orientações legais aqui citadas posicionam a prática de comensalidade diretamente vinculada a fatores culturais e projetam oportunidade de a Alimentação Escolar ensejar essa lógica. Para isso, além de uma oferta de refeições que supere o conceito de alimentação saudável exclusivamente imbricado a referências nutricionais, torna-se necessário investir em ações de Educação Alimentar e Nutricional que também reconheçam as representações e os conhecimentos associados à sociabilidade do comer.   Entendendo que as normativas expressam movimentos dialógicos, sigo no desejo de que a abordagem sobre cultura alimentar e seus horizontes de possibilidades educativas consiga interagir com iniciativas ligadas à integração das ações de cuidado e de educação com crianças pequenas. Talvez nessa direção possamos redimensionar campos semânticos do “paladar infantil” para que crianças sejam menos impactadas pela mercantilização precarizada de um comer que cada vez mais problematiza índices de qualidade de vida. Sobre o autor Murilo Góes é gastrônomo e professor, mestre em Ensino de Humanidades e doutorando em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Desenvolve eventos e trabalhos artísticos sobre alimentação, além de pesquisas sobre potencialidades educativas da comida.

Educar sobre comida é educar para a vida. Garantir a Educação Alimentar nas escolas é formar gerações mais conscientes, saudáveis e críticas.

Junte-se a nós nessa mobilização!