Seminário Cozinhas e Infâncias promove encontro sobre educação alimentar e a cultura do Cerrado em Chapada dos Guimarães

Por Flora Camargo e Solène Tricaud Chapada dos Guimarães é um município mato-grossense conhecido por seus aspectos turísticos e belezas naturais. O que deveria chamar a atenção, para além disso, é que este é um município majoritariamente rural, com áreas de cerrado preservado, onde comunidades vivem e mantêm muita riqueza, saberes e diversidade, e dependem deste bioma. Passados três anos de atuação do Instituto Comida e Cultura, por meio do programa Cozinhas e Infâncias Territórios, construímos um seminário de culminância que pretendeu trazer luz ao tema e celebrar as ações desenvolvidas neste tempo e neste território. Um trabalho em conjunto a diversas escolas urbanas e rurais do município e olhando junto com a comunidade escolar para a transformação que a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) pretende imprimir no território.  Para saber mais sobre o progama Cozinhas e Infâncias Territórios e sobre essa primeira experiencia no Mato Grosso, sugerimos a leitura deste outro artigo, em noso blog. O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado”, aberto à população local, recebeu diversas comunidades rurais e a comunidade escolar, que participaram oferecendo deliciosos e surpreendentes quitutes feitos com ingredientes locais, ao longo da programação deste evento, que celebrou também a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública da alimentação escolar do município. Durante a manhã, as participantes da formação puderam apresentar os projetos realizados ao longo do semestre, no chão da escola. Foram trazidos temas como: o resgate das plantas medicinais locais e a confeção de produtos como sabonetes, xaropes, entre outros; inovação em compostagem e minhocário; comida afetiva e a participação das famílias na escola; resgate de alimentos na alimentação escolar como o inhame; sementes e preservação do Cerrado;  atividades lúdicas e alimentação adequada e saudável; implantação de hortas escolares; pães caseiros, e outros. Os projetos foram apresentados evidenciando mudanças positivas, tendo sido realizados com ferramentas que permitiram autonomia e permanência das ações na rotina escolar, estreitando laços, promovendo saberes e sabores diversos e fortalecendo a Educação Alimentar como tema potente, transversal e de transformação social.   Ao longo de todo evento, pudemos contar com uma feira com expositores de diversas comunidades rurais do município ligadas à comunidade escolar. Uma oportunidade para dar visibilidade e valorizar as agricultoras e os agricultores familiares e suas associações, além de artesãs e artesãos chapadenses, trazendo grande riqueza e diversidade de produtos. Isso demonstra a força de organização e potência destes territórios, e se fizeram presentes as comunidades Batatais, Jangada Roncador, Pedra Preta, Água Fria, Mamede e o Vale do Jamacá, trazendo uma grande riqueza de produtos, como: mandioca e derivados (farinha, biscoitos, chips), doces, geleias, ovos, queijo, requeijão, pães, biscoitos, assim como frutas, hortaliças e legumes, sabonetes, xaropes, além de produtos oriundos do manejo sustentável do cerrado como o pequi e os derivados do cumbaru e jatobá. Como forma de garantir a participação ampla da comunidade escolar, o seminário contou com atividades específicas voltadas às crianças. Elas também mergulharam no tema da alimentação, de forma leve e lúdica a partir de desenhos, pinturas, sessão de filme e colheita na horta escolar agroecológica de verduras e ervas medicinais.  O evento contou ainda com a performance “Pilão”, realizada pelo grupo de mulheres da comunidade Barra do Bom Jardim que, por meio da dança, da fala e do gesto de socar o arroz no pilão, compartilharam as lembranças da vida na roça e dos modos de fazer nas comunidades rurais antes do alagamento de parte do território Chapadense para a construção da Usina Hidrelétrica do Manso. Esse parêntese artístico-cultural no meio do seminário trouxe memórias à tona e descobertas para quem nunca havia visto arroz com casca, ou o trabalho no pilão, provocando reflexões sobre as mudanças que impactam nossos pratos e nossa alimentação diária. Encerramos o seminário com uma roda de conversa com agentes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que estabelece a participação da comunidade no controle social, no acompanhamento das ações realizadas pelos municípios para garantir a oferta da alimentação escolar saudável e adequada. Estiveram presentes a Secretária Municipal de Cultura, a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), o Conselho de Alimentação Escolar (CAE), o Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (CECANE), a Associação Jovens Vivendo no Campo e a Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Chapada dos Guimarães (Cooperchapada). Foi um momento importante para expressar observações e sugestões  sobre os caminhos e os desafios enfrentados no fornecimento da alimentação escolar no município, além de celebrar  o PNAE, seus princípios e desdobramentos a partir da formação. Como parte da contribuição deste encontro, destacamos alguns pontos importantes para entender o que pode ser melhorado a partir de uma carta manifesto escrita ao longo da formação em conjunto com a comunidade escolar e aproveitamos a oportunidade para pensarmos juntos em soluções.  Por fim, realizamos o plantio de uma muda de baru celebrando os frutos gerados por este simbólico evento, estabelecendo a prática de EAN como ferramenta de  fortalecimento da  cultura local, resgatando e valorizando as tradições alimentares e a identidade dos povos habitantes do cerrado mato-grossense. Agradecemos os seguintes coletivos e seus membros pela participação no evento: Associação Jovens Vivendo no Campo, Associação dos pequenos produtores da Jangada Roncador, Associação de moradores e pequenos produtores do PA Mamede, Associação de pequenos produtores rurais da cachoeira e Morro do Bom Jardim, grupo Produzir Chapada, Empreendimento DuCampo e Sítio Jamacá. Agradecemos às intérpretes-criadoras da performance cultural “Pilão”: Dona Sofia de Alvarenga, Laura de Alvarenga, Lory Silva e Francisca Dias Lessa — moradoras da Comunidade Barra do Bom Jardim, e Oz Ferreira, dramaturgista e diretora da cena. Agradecemos ao Grupo Semente e ao Projeto Sementinha por abrir as portas da horta em que aconteceram as oficinas com as crianças. Agradecemos a CMEI Anita Goulart, a escola Municipal Monteiro Lobato e as Escolas Rurais Municipais Santa Helena e Elba Xavier e suas anexas. Agradecemos também a escola estadual Rafael de Siqueira em nome do seu diretor Daniel de Lima, que gentilmente cedeu o espaço para a realização do Seminário.

Programa Cozinhas e Infâncias celebra formatura em Curitiba com a juventude na cozinha

O primeiro semestre de 2025 marcou a chegada do programa Cozinhas e Infâncias a Curitiba. Professores, gestores e nutricionistas da rede pública de ensino da capital paranaense tiveram a oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre educação alimentar. O projeto já deu frutos, com muitos educadores agregando os saberes a suas práticas pedagógicas. A educadora Ana Rigo, professora do projeto Mãos na Massa na Escola Professor Erasmo Pilotto, com coordenação pedagógica de Fernanda Ziemmermann, é uma das parceiras do Instituto Comida e Cultura (ICC) na implementação da formação em educação alimentar em Curitiba. Com o apoio do Instituto Bia Rabinovich (IBR), o Cozinhas e Infâncias chegou a educadores de 11 escolas da cidade e, possivelmente, às comunidades de muitas crianças que compartilham os conteúdos das aulas com seus familiares. O encerramento do curso foi realizado no melhor estilo: junto às crianças, alunas e alunos da escola Erasmo Pilotto. “No Mãos na Massa, trabalhamos alimentação saudável, horta escolar, composteira, meditação, vários aspectos que envolvam o conhecimento sobre os sistemas alimentares e a nossa cultura alimentar brasileira”, conta Ana Rigo. “Foi muito bonito ver todo mundo trabalhando em conjunto na cozinha, superando as dificuldades. Fiquei bem orgulhosa dos meus alunos. Eles mostraram que já guardam um grande conhecimento sobre educação alimentar e nutricional, fruto de um trabalho de quatro anos que esse projeto já acontece na escola”, completa. Para Ana Vasconcellos, facilitadora pedagógica do ICC, a experiência em Curitiba partiu de uma construção de parceria, empatia e confiança, tanto com os educadores, quanto com as crianças. “Eu trouxe uma comida originária de alguns países de África, que é o mungunzá, ou a canjica, para a atividade na escola. Falei que a canjica é uma comida de santo, ligada à espiritualidade e à ancestralidade. Que o Brasil tem toda essa cultura preta, cultura indígena e dos imigrantes. Somos um grande país, plural e diferente. Eles ouviram com atenção e contei que a canjica também é memória afetiva, pois a minha mãe faz para mim até hoje”, lembra.  “Depois, cozinhamos juntos e foi muito bacana. Uma das alunas da turma é indígena e nos deu uma aula maravilhosa sobre as comidas típicas do Pará. A gente também aprende muito com eles. Eu mais aprendi do que ensinei, e saí uma pessoa muito melhor depois desse processo.” Apesar da subjetividade que a educação alimentar pode ter na vida das crianças, o impacto no bem-estar é, muitas vezes, palpável. A seguir, confira alguns depoimentos de estudantes da escola Erasmo Pilotto que fortalecem nossa caminhada por mais educação alimentar nas infâncias. “Como a gente está em um período em que só comemos comida industrializada, que tem muitos aditivos químicos, o projeto Mãos na Massa é como se fosse um refúgio pras pessoas que querem comer saudável. Pras pessoas que gostam e pras pessoas que não sabem ainda o que é isso. Minha avó e minha mãe sempre cozinham, muito raramente a gente pede uma comida. Às vezes, quando não tem nada pronto para comer, eu vou lá e faço. Porque é uma coisa que a gente já tem idade pra ser independente, para fazer algumas coisas que a gente consegue. E é muito legal descobrir que a gente consegue fazer coisas novas.” – Yasmin, 12 anos (já cozinha desde os 7 anos) “Desde pequeno, eu sempre quis cozinhar, e comecei no curso esse ano. Já fizemos milho refogado e cozido, pão de mandioca, tapioca, broa de fubá. É divertido cozinhar porque tem gente que eu conheço junto comigo.” – Bernardo, 12 anos “Acho uma experiência muito legal ter aula de culinária na escola, porque a gente pode aprender a cozinhar umas comidas que podem agregar no nosso dia a dia e no nosso cotidiano. Várias vezes a gente acaba comendo comidas que não fazem bem e a gente acaba não percebendo. Quando a gente faz a nossa própria comida, a gente se sente melhor por ter conseguido fazer. Eu faço macarrão, arroz, feijão, bolo, estrogonofe. Às vezes, cozinho junto com meus irmãos mais novos e ensino a eles.” – Nataly, 14 anos “Aprendemos bastante sobre comidas indígenas e sobre como o alimento que tem químicos faz mal pra nós. Aprendi a fazer milho cozido, broa de fubá, bolo de fubá também, várias receitas com milho. Quando você cresce, a mãe não vai estar mais do lado, e você tem que aprender a cozinhar sozinho. Eu conto pra minha família o que eu aprendo na aula. E a minha mãe sempre ensinou a fazer o básico: arroz, feijão.” – Otávio, 12 anos “Eu vim de Belém do Pará e vivi lá por nove anos, desde que nasci até me mudar para Curitiba. Lá a gente comia bastante tacacá, maniçoba, que são comidas típicas de lá que são feitas principalmente da mandioca e de algumas outras comidas, como o jambu. Eu espero aprender a cozinhar esse tipo de comida um dia. Aprender a cozinhar é importante para aprender a cultura de outros povos e para que um dia, no futuro, eu possa cozinhar pros meus filhos, pros meus amigos, para familiares. É uma coisa que eu gosto de fazer. Quando eu estou com outras pessoas, eu posso conversar com elas enquanto a gente cozinha, e quando estou sozinha, posso conversar comigo mesma. É um tempinho que eu gosto. Desde pequena, eu gosto muito de cozinhar com a minha mãe. Só que, quando a gente veio para Curitiba, às vezes a gente não tinha tempo para cozinhar juntos, a família inteira. A gente acabou perdendo algumas coisas que a gente fazia, como cozinhar juntos. Aqui eu encontrei um grupo de pessoas que gostava de cozinhar também, e era muito engraçado, todo mundo ri. E também é sobre conviver com pessoas de outras salas, que a gente não vê durante o intervalo porque a gente já tem nossos amigos e outras coisas para fazer. Mas aí, no Mãos na Massa, eu posso conviver com outras pessoas.” – Maria Clara, 13 anos

Governo federal publica documento em apoio à inclusão da Educação Alimentar e Nutricional nas escolas

O governo federal publicou, no dia 29 de maio, uma nota técnica que tem o objetivo de fortalecer a inclusão da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no currículo escolar e no Projeto Político-Pedagógico (PPP). O foco do documento são as escolas públicas da Educação Básica vinculadas ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).  O Instituto Comida e Cultura foi uma das organizações da sociedade civil convidadas a colaborar com a nota, consolidada pela Divisão de Educação Alimentar e Nutricional (DIEAN), que faz parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O documento propõe que sejam seguidas as diretrizes da lei nº 11.947, que regulamentou o PNAE, no que diz respeito à educação alimentar. No Art. 2º, está prevista “a inclusão da Educação Alimentar e Nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional”. A lei nº 13.666 também é referenciada, já que prevê que a EAN seja incluída transversalmente nos currículos escolares, ou seja, que possa fazer parte de toda e qualquer disciplina. Assim, a promoção da alimentação adequada e saudável nas escolas vai além da oferta de refeições nutricionalmente equilibradas. São necessárias práticas pedagógicas que promovam reflexões críticas sobre o que e como comemos, para estimular a autonomia e melhores escolhas alimentares dos estudantes.  O ICC integrou um grupo de trabalho a convite do FNDE desde setembro de 2024, para que o documento fosse construído a muitas mãos com outras entidades, universidades e o governo. “Foi uma oportunidade para o ICC juntar-se a esses atores para debater o tema da inserção da educação alimentar nos currículos e propor orientações para sua viabilização pelas escolas de todo Brasil”, afirma Ariela Doctors, coordenadora-geral do Instituto Comida e Cultura.   A nota técnica reconhece que a inserção da EAN no currículo escolar representa uma oportunidade de integrar, de forma permanente, práticas pedagógicas que promovam a alimentação adequada e saudável no ambiente escolar. Mas há muitos desafios para a plena implementação, como aponta o documento: lacunas na formação dos educadores sobre alimentação, nutrição, o PNAE e a própria EAN; ausência de planejamento específico; escassez de recursos financeiros; entre outros.  A incidência do Instituto Comida e Cultura se dá, justamente, na formação de profissionais da educação em temas transversais à EAN. Em São Paulo, o ICC já formou mais de 1.000 educadores da rede municipal de ensino com o Programa Cozinhas e Infâncias, encorajando-os ao debate sobre educação alimentar e estimulando-os à prática. Cerca de 100 mil estudantes foram potencialmente impactados pelo projeto.  Acesse a nota técnica completa aqui e conheça os princípios e estratégias propostos pelo FNDE para a inclusão da educação alimentar e nutricional no currículo escolar.

Feira de produtores e seminário sobre educação alimentar acontece em Chapada dos Guimarães-MT em julho

Evento gratuito é promovido pelo Instituto Comida e Cultura na Escola Estadual Rafael de Siqueira, com apoio da Prefeitura de Chapada dos Guimarães e do Ministério Público do Mato Grosso O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, recebe o seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” no dia 5 de julho. O evento acontecerá na Escola Estadual Rafael de Siqueira. A programação inclui a apresentação de projetos pedagógicos em Educação Alimentar e Nutricional (EAN), além de uma feira de alimentos da sociobiodiversidade cultivados por produtores locais e atividades pensadas para as crianças. Os projetos em EAN são fruto do Programa Cozinhas e Infâncias na Chapada dos Guimarães, uma formação em educação alimentar voltada para professores, cozinheiras e gestores escolares, promovida pelo Instituto Comida e Cultura (ICC) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. “Com a inserção da educação alimentar na rotina escolar, é possível envolver toda a comunidade, desde a valorização do trabalho das cozinheiras enquanto educadoras, com a introdução de novas receitas, até o incentivo à gestão pública na compra e fomento de alimentos da sociobiodiversidade local. Para que a educação alimentar e nutricional nas escolas seja eficaz, é importante que essas ações sejam contínuas e permanentes”, destaca Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura.  O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” pretende ser uma oportunidade de polinizar as ações das educadoras que fizeram a formação do ICC, para que outros professores da rede municipal se inspirem a desenvolver suas próprias ações pedagógicas em EAN.  “O projeto Cozinhas e Infâncias atua na base da educação alimentar de nossas crianças, trabalhando no ambiente onde elas passam a maior parte do tempo: as escolas. Nesta terceira etapa, o projeto visa fortalecer os profissionais que cozinham nas escolas públicas do município, ensinando técnicas inovadoras com alimentos locais. O objetivo também é reforçar o Guia Alimentar para a População Brasileira nas escolas públicas”, afirma Leandro Volochko, promotor de Justiça de Chapada dos Guimarães. Para Benedito Lechner, secretário municipal de Educação, o projeto do Instituto Comida e Cultura tem sido uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento alimentar educacional de Chapada dos Guimarães, especialmente considerando o perfil da população da zona rural. “Temos vários servidores engajados nesse projeto, alguns participando pela terceira edição, o que demonstra o impacto e a continuidade dessa iniciativa”, avalia.  “Os professores estão adquirindo conhecimentos valiosos sobre os produtos do Cerrado, aprendendo a valorizá-los e a incorporá-los na alimentação escolar. Esse aprendizado já trouxe resultados concretos, como a inclusão do pequi e da farinha de baru no pregão eletrônico da merenda escolar, garantindo que nossos alunos tenham acesso a ingredientes naturais e nutritivos”, completa. Além das apresentações dos projetos das educadoras, a programação do seminário inclui uma mesa redonda sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e haverá distribuição do “Guia Orientador Educação Alimentar e Nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães”, um manual desenvolvido pelo Instituto Comida e Cultura para auxiliar na implementação de práticas pedagógicas que promovam a reconexão com o alimento e o meio ambiente. Atividades para as crianças e a “Feira Sabores e Saberes” completam a agenda, e será possível comprar alimentos direto dos produtores, com foco na biodiversidade local. SERVIÇO: Seminário Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado Feira de produtores com alimentos do Cerrado, atração cultural, rodas de conversa sobre educação alimentar, exibição de filme e atividades para as crianças. Local: Escola Estadual Rafael de Siqueira – Rua Tiradentes, 350, Chapada dos Guimarães/MT Quando: 5 de julho, das 8h às 13h30 Programação completa: 8h às 8h30 – Boas-vindas e abertura da feira8h30 às 10h30 – Apresentação de projetos: Educação Alimentar e Nutricional – Autonomia e Permanência10h30 às 11h – Intervalo com lanche11h às 11h30 – Performance cultural11h30 às 13h30 – Mesa redonda: Programa Nacional de Alimentação Escolar e suas diretrizes na Chapada dos Guimarães Programação para as crianças: 8h30 às 10h30 – Exibição de filme11h às 13h30 – Oficinas pedagógicas e lúdicas Feira Saberes e Sabores (produtores locais): aberta durante todo o evento, das 8h às 13h30.

Cozinhas e Infâncias leva educação alimentar ao Mato Grosso, com resgate da sociobiodiversidade

Primeiro município a receber o programa Cozinhas e Infâncias Territórios, Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, tem o Cerrado estampado em suas ruas, mesas, rostos. O segundo maior bioma brasileiro é repleto de saberes e sabores próprios, e uma cultura alimentar rica e diversa pronta para ganhar espaço nas cozinhas das novas gerações.  Esse resgate da sociobiodiversidade é um dos objetivos do Cozinhas e Infâncias, promovido no território pelo Instituto Comida e Cultura (ICC), em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso, a Promotoria de Justiça de Chapada dos Guimarães e a Prefeitura de Chapada dos Guimarães. O programa é uma formação em educação alimentar voltada a professores, nutricionistas, cozinheiras e gestores escolares da rede pública de ensino. A imersão em Chapada dos Guimarães teve início em 2023, com atividades pedagógicas que estimulam a reconexão com o entorno e com as culturas alimentares ancestrais.  Ao final de duas fases formativas, 40 educadores estavam capacitados a levar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) a suas comunidades escolares, com um alcance de cerca de 1.000 crianças beneficiadas. Em 2025, o programa chegou à sua terceira fase no município, com foco no auxílio à implementação das práticas pedagógicas em educação alimentar idealizadas pelas professoras. “O projeto Cozinhas e Infâncias trabalha pela educação alimentar e mergulha na cultura culinária local como porta de entrada para o debate da sociobiodiversidade. Ele conecta práticas agrícolas que apoiam a produção de alimentos, identidade e tradições, sabores, saúde, educação e meio ambiente, para motivar e movimentar um espaço político favorável  à sua conservação”, explica Daniella Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais do Instituto Comida e Cultura.  “Hoje, o Cerrado é nosso bioma mais ameaçado e o projeto convoca educadores do ‘coração do Brasil’ a uma reflexão emancipatória sobre as possibilidades de sistemas alimentares mais saudáveis a partir de uma atitude protagonista e uma nova consciência alimentar”, completa. No caso de Chapada dos Guimarães, a valorização dos saberes e sabores do Cerrado traduziu-se ainda na atuação do ICC junto à prefeitura para inserção de produtos da sociobiodiversidade na Chamada Pública do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município. No edital de compras de alimentos para a merenda escolar de 2025 figuram o pequi, fruta nativa que é considerada o “ouro do Cerrado”, e a castanha de baru, oleaginosa rica em nutrientes e que também tem origem no bioma. Para Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública do PNAE representa um grande avanço, pois deve beneficiar as comunidades por meio de geração de renda e valorização das culturas e saberes locais, aliado à conservação do Cerrado.  “Essa ação representa um primeiro passo necessário para uma jornada maior que visa olhar para a educação alimentar e nutricional nas escolas por meio do fortalecimento dos territórios e da mudança dos cardápios, priorizando os produtos in natura aos ultraprocessados. Nossa expectativa é estimular as comunidades locais e, na sequência, conseguir ampliar a inserção para outros alimentos, como as diversas frutas do Cerrado: mangaba, caju, jatobá, entre outros”, diz Flora. As negociações para a inserção de alimentos nativos e sociobiodiversos na chamada pública estava em curso desde o fim de 2024. Um levantamento prévio de comunidades e de produtos que estão mais acessíveis no município indicou a viabilidade do baru e da polpa de pequi em um primeiro momento. Com os dados em mãos e em parceria com as nutricionistas responsáveis pelos cardápios da merenda escolar, chegou-se à lista final de alimentos para inserção na chamada pública. “É importante atuarmos para a formulação das políticas públicas. Fizemos essa incidência na chamada pública e temos outros pontos a considerar sobre a merenda escolar. A merenda é o ponto de confluência, porque não tem como a gente promover educação alimentar nas escolas, estimulando uma alimentação saudável, e fornecer uma alimentação de má qualidade e rica em ultraprocessados”, finaliza Flora.

Formação em educação alimentar chega a Curitiba com o programa Cozinhas e Infâncias

Quando aprendem desde cedo, as crianças semeiam conhecimento por onde vão. São saberes que incluem conhecer seus direitos e deveres, desenvolver habilidades emocionais e técnicas, e aprender a cuidar de si, do outro e do planeta. Para promover a semeadura de saberes sobre alimentação, história e meio ambiente, o Instituto Comida e Cultura (ICC) trabalha, desde 2022, com a formação de educadores por meio do Programa Cozinhas e Infâncias. Em 2025, enquanto esta experiência multidisciplinar inicia sua terceira fase em São Paulo, o Cozinhas e Infâncias chega a Curitiba, capital do Paraná.  O projeto acontece por meio de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o ICC e a Prefeitura de Curitiba, e vem para potencializar o projeto “Mãos na massa”, já em desenvolvimento pela prefeitura nas escolas municipais, a partir da metodologia desenvolvida pelo Instituto Comida e Cultura.  “O programa Cozinhas e Infâncias tem o alimento como ferramenta, falando muito da história geral e do Brasil. A gente decoloniza esses conceitos e traz para os educadores, principalmente de cidades no Sul e no Sudeste, uma realidade de um Brasil da qual eles estão mais distantes. E acredito que o mais poderoso nesse curso é ser uma ferramenta de união do grupo de cursistas”, afirma Ana Vasconcelos, facilitadora nos programas de formação do ICC. Onze escolas municipais dos anos finais do ensino fundamental participam do Cozinhas e Infâncias na capital paranaense. Com o apoio do Instituto Bia Rabinovich (IBR), a expectativa é sensibilizar 40 educadores, que serão capazes de disseminar a educação alimentar integrativa e transformar vidas em suas comunidades. O curso é distribuído em sete módulos, ministrados no primeiro semestre de 2025. “Fomentar a educação alimentar nas escolas brasileiras é uma estratégia poderosa de transformação social. Quando investimos na formação de educadores para levarem esse conhecimento às salas de aula, estamos indo muito além da promoção de hábitos saudáveis. Estamos enfrentando desigualdades históricas que afetam milhões de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade”, defende Carla Mourão, diretora executiva do IBR. “Ao capacitarmos educadores da rede pública, damos a eles ferramentas para formar uma geração mais consciente, crítica e preparada para construir um futuro mais justo, sustentável e solidário. E ao patrocinar iniciativas como essa, reafirmamos nosso propósito de fomentar projetos que geram impacto social concreto e contribuem para a construção de um sistema alimentar mais justo, saudável e consciente em todo o Brasil”, completa. De acordo com o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24% da população de Curitiba se autodeclara preta ou parda. Esse percentual faz da cidade a capital com maior número de pessoas negras da região sul do Brasil. E, como resultado das desigualdades sociais por cor e raça no país, percebe-se maiores níveis de vulnerabilidade socioeconômica nas populações preta, parda e indígena. “Há muitas pessoas negras em Curitiba, mas a maior parte é periférica. Uma das professoras participantes é uma mulher negra e relatou o quanto o curso estava sendo importante para ela sentir que está no caminho certo, que não deve desistir. Foi muito emocionante ver que pudemos dar apoio às decisões que ela vai tomar a partir da conscientização de quem ela é”, conta Ana Vasconcelos. A educadora a quem Ana se refere é Lígia Krelling, que atua como técnica da equipe de ciências no Departamento do Ensino Fundamental da Prefeitura de Curitiba. Ela conta que se identificou com a abordagem sobre decolonidade na aula de abertura do Cozinhas e Infâncias. Quando escreveu sua tese de doutorado sobre as hortas comunitárias de Curitiba, Lígia diz que não incluiu o recorte de que a maior parte das pessoas que frequentavam esses espaços eram mulheres negras. Hoje, em outro momento de vida, está lendo sobre a Cida Bento, Sueli Carneiro e outras autoras negras que trazem esse recorte.  “Como uma mulher negra, eu preciso participar desse grupo de estudos, e hoje eu já traria uma outra perspectiva para a minha pesquisa. Ao chegar aqui e ver a Ana falando, me identifiquei e me reconheci nela. Fiquei muito feliz de ver uma mulher negra numa posição de destaque e de perceber que o curso vai trazer essa perspectiva decolonial para o currículo e para a questão da alimentação, o que é muito significativo e importante. Esse é um lugar ao qual precisamos pertencer e existir, e agradeço muito a oportunidade de fazer esse curso.” Tem interesse em colaborar conosco? Se você tem um projeto de educação alimentar em andamento e gostaria que o Instituto Comida e Cultura leve sua metodologia pedagógica para a sua cidade, entre em contato conosco neste canal. Juntas e juntos, podemos levar educação alimentar a todas as crianças do Brasil!

Cozinhas e Infâncias inicia formação de professores do ensino fundamental em São Paulo

O Programa Cozinhas e Infâncias chega à terceira fase em São Paulo com a formação de professores em Educação Alimentar e Nutricional (EAN). O primeiro encontro da nova turma ocorreu no fim de março e as aulas acontecem durante todo o semestre. Serão sete módulos que percorrem a história do alimento em paralelo com o desenvolvimento humano no mundo e a sociobiodiversidade, em especial na formação da cultura culinária brasileira.  “A proposta é trazer um contorno que evidencia tradições e modos de preparo ancestrais, além da comida de panela em contraponto aos ultraprocessados”, explica Ariela Doctors, coordenadora-geral e coautora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura (ICC).  Fotos: Fernando Martinho A iniciativa acontece em São Paulo graças a uma parceria instituída por Acordo de Cooperação Técnica entre o ICC, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, por meio de Coordenadoria de Alimentação Escolar (CODAE), e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Com aulas expositivas e práticas, o curso pretende estimular o resgate da história, cultura e biodiversidade brasileiras, do campo à mesa. A nova fase do Cozinhas e Infâncias deve formar 300 professores do ensino fundamental da rede municipal. “Temos a expectativa que as educadoras do ensino fundamental 1 consigam dar continuidade ao que está sendo semeado em EAN desde a primeira infância junto aos estudantes das EMEIs de São Paulo”, completa Ariela. O programa Cozinhas e Infâncias teve início em 2022, em São Paulo. Até 2024, a iniciativa alcançou 546 unidades escolares de Educação Infantil (todas as EMEIs e CMEIs), 569 professores e gestores, 588 cozinheiras e 71 nutricionistas da CODAE. Cerca de 110 mil estudantes (50% do total de alunos) da rede infantil da capital paulista já foram impactados pelo programa.  A professora Maria Inês de Souza, da EMEF Érico Veríssimo, conta que cresceu na roça e que busca apresentar alimentos frescos e biodiversos aos seus estudantes. Ela é uma das participantes do Cozinhas e Infâncias este ano e espera ampliar seu repertório pedagógico de educação alimentar. “Essa formação vem agregar ainda mais à importância da alimentação saudável, voltada aos alimentos naturais, e não aos industrrializados”, diz.  Para Mariana Soares, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, o Cozinhas e Infâncias é uma janela para pensar na conexão com a natureza por meio do alimento saudável, que a terra nos proporciona em sua maior expressão de vida. E é também uma oportunidade para compartilhar momentos felizes em comunidade, em um resgate de memórias afetivas. “Em um passado não muito distante, as crianças viam as mães aprendendo com as avós as receitas que há gerações alimentaram aquela família. Naquela observação, já se preparavam para serem guardiãs daqueles ensinamentos. De geração em geração, construíam aquela cultura alimentar, conectada com o bioma, com o clima, com a estação do ano, com as pessoas, com a natureza como um todo, criando sua próprias formas de transformar o alimento.”