Instituto Comida e Cultura e IEA promovem seminário sobre Educação Alimentar e Nutricional na USP 

Evento discute o papel estratégico da Educação Alimentar frente à crise climática, às desigualdades sociais e à desinformação  No dia 11 de agosto, acontece o seminário “A Hora e a Vez da EAN”, realizado a partir de uma parceria entre o Instituto Comida e Cultura (ICC) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O evento, que também conta com o apoio da Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica da USP, tem como objetivo posicionar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no centro dos debates sobre educação, cultura alimentar, saúde e justiça social. Com painéis e bate-papos entre especialistas para discutir políticas públicas, práticas educativas e o papel da alimentação na promoção da equidade e cidadania, a atividade acontece entre 14h e 18h, no IEA-USP, na Cidade Universitária, com transmissão ao vivo pelo YouTube.  “O evento marca uma articulação potente entre sociedade civil, academia e poder público para fortalecer a educação alimentar e nutricional como prática contínua nas escolas e como política pública de impacto intersetorial. Queremos ampliar essa conversa, sensibilizar gestores e apoiar educadores na construção de uma agenda positiva e transformadora na garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada”, comenta Patrícia Jaime, vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública da USP e pesquisadora do IEA.  Durante o seminário, será lançado o manifesto “A Hora e a Vez da Educação Alimentar”, documento que defende a EAN como política pública estruturante no contexto de sindemia global, que descreve a interseção de múltiplas epidemias como a obesidade, a desnutrição, as doenças crônicas não transmissíveis e as mudanças climáticas. O documento também apresenta sete recomendações aos gestores públicos para implementação efetiva da EAN nas escolas. Consulte o material completo aqui.  O encontro é direcionado a profissionais de educação, saúde e assistência social e agricultura, além de professores, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, gestores públicos e representantes de movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

Seminário Cozinhas e Infâncias promove encontro sobre educação alimentar e a cultura do Cerrado em Chapada dos Guimarães

Por Flora Camargo e Solène Tricaud Chapada dos Guimarães é um município mato-grossense conhecido por seus aspectos turísticos e belezas naturais. O que deveria chamar a atenção, para além disso, é que este é um município majoritariamente rural, com áreas de cerrado preservado, onde comunidades vivem e mantêm muita riqueza, saberes e diversidade, e dependem deste bioma. Passados três anos de atuação do Instituto Comida e Cultura, por meio do programa Cozinhas e Infâncias Territórios, construímos um seminário de culminância que pretendeu trazer luz ao tema e celebrar as ações desenvolvidas neste tempo e neste território. Um trabalho em conjunto a diversas escolas urbanas e rurais do município e olhando junto com a comunidade escolar para a transformação que a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) pretende imprimir no território.  Para saber mais sobre o progama Cozinhas e Infâncias Territórios e sobre essa primeira experiencia no Mato Grosso, sugerimos a leitura deste outro artigo, em noso blog. O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado”, aberto à população local, recebeu diversas comunidades rurais e a comunidade escolar, que participaram oferecendo deliciosos e surpreendentes quitutes feitos com ingredientes locais, ao longo da programação deste evento, que celebrou também a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública da alimentação escolar do município. Durante a manhã, as participantes da formação puderam apresentar os projetos realizados ao longo do semestre, no chão da escola. Foram trazidos temas como: o resgate das plantas medicinais locais e a confeção de produtos como sabonetes, xaropes, entre outros; inovação em compostagem e minhocário; comida afetiva e a participação das famílias na escola; resgate de alimentos na alimentação escolar como o inhame; sementes e preservação do Cerrado;  atividades lúdicas e alimentação adequada e saudável; implantação de hortas escolares; pães caseiros, e outros. Os projetos foram apresentados evidenciando mudanças positivas, tendo sido realizados com ferramentas que permitiram autonomia e permanência das ações na rotina escolar, estreitando laços, promovendo saberes e sabores diversos e fortalecendo a Educação Alimentar como tema potente, transversal e de transformação social.   Ao longo de todo evento, pudemos contar com uma feira com expositores de diversas comunidades rurais do município ligadas à comunidade escolar. Uma oportunidade para dar visibilidade e valorizar as agricultoras e os agricultores familiares e suas associações, além de artesãs e artesãos chapadenses, trazendo grande riqueza e diversidade de produtos. Isso demonstra a força de organização e potência destes territórios, e se fizeram presentes as comunidades Batatais, Jangada Roncador, Pedra Preta, Água Fria, Mamede e o Vale do Jamacá, trazendo uma grande riqueza de produtos, como: mandioca e derivados (farinha, biscoitos, chips), doces, geleias, ovos, queijo, requeijão, pães, biscoitos, assim como frutas, hortaliças e legumes, sabonetes, xaropes, além de produtos oriundos do manejo sustentável do cerrado como o pequi e os derivados do cumbaru e jatobá. Como forma de garantir a participação ampla da comunidade escolar, o seminário contou com atividades específicas voltadas às crianças. Elas também mergulharam no tema da alimentação, de forma leve e lúdica a partir de desenhos, pinturas, sessão de filme e colheita na horta escolar agroecológica de verduras e ervas medicinais.  O evento contou ainda com a performance “Pilão”, realizada pelo grupo de mulheres da comunidade Barra do Bom Jardim que, por meio da dança, da fala e do gesto de socar o arroz no pilão, compartilharam as lembranças da vida na roça e dos modos de fazer nas comunidades rurais antes do alagamento de parte do território Chapadense para a construção da Usina Hidrelétrica do Manso. Esse parêntese artístico-cultural no meio do seminário trouxe memórias à tona e descobertas para quem nunca havia visto arroz com casca, ou o trabalho no pilão, provocando reflexões sobre as mudanças que impactam nossos pratos e nossa alimentação diária. Encerramos o seminário com uma roda de conversa com agentes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que estabelece a participação da comunidade no controle social, no acompanhamento das ações realizadas pelos municípios para garantir a oferta da alimentação escolar saudável e adequada. Estiveram presentes a Secretária Municipal de Cultura, a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER), o Conselho de Alimentação Escolar (CAE), o Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (CECANE), a Associação Jovens Vivendo no Campo e a Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Chapada dos Guimarães (Cooperchapada). Foi um momento importante para expressar observações e sugestões  sobre os caminhos e os desafios enfrentados no fornecimento da alimentação escolar no município, além de celebrar  o PNAE, seus princípios e desdobramentos a partir da formação. Como parte da contribuição deste encontro, destacamos alguns pontos importantes para entender o que pode ser melhorado a partir de uma carta manifesto escrita ao longo da formação em conjunto com a comunidade escolar e aproveitamos a oportunidade para pensarmos juntos em soluções.  Por fim, realizamos o plantio de uma muda de baru celebrando os frutos gerados por este simbólico evento, estabelecendo a prática de EAN como ferramenta de  fortalecimento da  cultura local, resgatando e valorizando as tradições alimentares e a identidade dos povos habitantes do cerrado mato-grossense. Agradecemos os seguintes coletivos e seus membros pela participação no evento: Associação Jovens Vivendo no Campo, Associação dos pequenos produtores da Jangada Roncador, Associação de moradores e pequenos produtores do PA Mamede, Associação de pequenos produtores rurais da cachoeira e Morro do Bom Jardim, grupo Produzir Chapada, Empreendimento DuCampo e Sítio Jamacá. Agradecemos às intérpretes-criadoras da performance cultural “Pilão”: Dona Sofia de Alvarenga, Laura de Alvarenga, Lory Silva e Francisca Dias Lessa — moradoras da Comunidade Barra do Bom Jardim, e Oz Ferreira, dramaturgista e diretora da cena. Agradecemos ao Grupo Semente e ao Projeto Sementinha por abrir as portas da horta em que aconteceram as oficinas com as crianças. Agradecemos a CMEI Anita Goulart, a escola Municipal Monteiro Lobato e as Escolas Rurais Municipais Santa Helena e Elba Xavier e suas anexas. Agradecemos também a escola estadual Rafael de Siqueira em nome do seu diretor Daniel de Lima, que gentilmente cedeu o espaço para a realização do Seminário.

Programa Cozinhas e Infâncias celebra formatura em Curitiba com a juventude na cozinha

O primeiro semestre de 2025 marcou a chegada do programa Cozinhas e Infâncias a Curitiba. Professores, gestores e nutricionistas da rede pública de ensino da capital paranaense tiveram a oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre educação alimentar. O projeto já deu frutos, com muitos educadores agregando os saberes a suas práticas pedagógicas. A educadora Ana Rigo, professora do projeto Mãos na Massa na Escola Professor Erasmo Pilotto, com coordenação pedagógica de Fernanda Ziemmermann, é uma das parceiras do Instituto Comida e Cultura (ICC) na implementação da formação em educação alimentar em Curitiba. Com o apoio do Instituto Bia Rabinovich (IBR), o Cozinhas e Infâncias chegou a educadores de 11 escolas da cidade e, possivelmente, às comunidades de muitas crianças que compartilham os conteúdos das aulas com seus familiares. O encerramento do curso foi realizado no melhor estilo: junto às crianças, alunas e alunos da escola Erasmo Pilotto. “No Mãos na Massa, trabalhamos alimentação saudável, horta escolar, composteira, meditação, vários aspectos que envolvam o conhecimento sobre os sistemas alimentares e a nossa cultura alimentar brasileira”, conta Ana Rigo. “Foi muito bonito ver todo mundo trabalhando em conjunto na cozinha, superando as dificuldades. Fiquei bem orgulhosa dos meus alunos. Eles mostraram que já guardam um grande conhecimento sobre educação alimentar e nutricional, fruto de um trabalho de quatro anos que esse projeto já acontece na escola”, completa. Para Ana Vasconcellos, facilitadora pedagógica do ICC, a experiência em Curitiba partiu de uma construção de parceria, empatia e confiança, tanto com os educadores, quanto com as crianças. “Eu trouxe uma comida originária de alguns países de África, que é o mungunzá, ou a canjica, para a atividade na escola. Falei que a canjica é uma comida de santo, ligada à espiritualidade e à ancestralidade. Que o Brasil tem toda essa cultura preta, cultura indígena e dos imigrantes. Somos um grande país, plural e diferente. Eles ouviram com atenção e contei que a canjica também é memória afetiva, pois a minha mãe faz para mim até hoje”, lembra.  “Depois, cozinhamos juntos e foi muito bacana. Uma das alunas da turma é indígena e nos deu uma aula maravilhosa sobre as comidas típicas do Pará. A gente também aprende muito com eles. Eu mais aprendi do que ensinei, e saí uma pessoa muito melhor depois desse processo.” Apesar da subjetividade que a educação alimentar pode ter na vida das crianças, o impacto no bem-estar é, muitas vezes, palpável. A seguir, confira alguns depoimentos de estudantes da escola Erasmo Pilotto que fortalecem nossa caminhada por mais educação alimentar nas infâncias. “Como a gente está em um período em que só comemos comida industrializada, que tem muitos aditivos químicos, o projeto Mãos na Massa é como se fosse um refúgio pras pessoas que querem comer saudável. Pras pessoas que gostam e pras pessoas que não sabem ainda o que é isso. Minha avó e minha mãe sempre cozinham, muito raramente a gente pede uma comida. Às vezes, quando não tem nada pronto para comer, eu vou lá e faço. Porque é uma coisa que a gente já tem idade pra ser independente, para fazer algumas coisas que a gente consegue. E é muito legal descobrir que a gente consegue fazer coisas novas.” – Yasmin, 12 anos (já cozinha desde os 7 anos) “Desde pequeno, eu sempre quis cozinhar, e comecei no curso esse ano. Já fizemos milho refogado e cozido, pão de mandioca, tapioca, broa de fubá. É divertido cozinhar porque tem gente que eu conheço junto comigo.” – Bernardo, 12 anos “Acho uma experiência muito legal ter aula de culinária na escola, porque a gente pode aprender a cozinhar umas comidas que podem agregar no nosso dia a dia e no nosso cotidiano. Várias vezes a gente acaba comendo comidas que não fazem bem e a gente acaba não percebendo. Quando a gente faz a nossa própria comida, a gente se sente melhor por ter conseguido fazer. Eu faço macarrão, arroz, feijão, bolo, estrogonofe. Às vezes, cozinho junto com meus irmãos mais novos e ensino a eles.” – Nataly, 14 anos “Aprendemos bastante sobre comidas indígenas e sobre como o alimento que tem químicos faz mal pra nós. Aprendi a fazer milho cozido, broa de fubá, bolo de fubá também, várias receitas com milho. Quando você cresce, a mãe não vai estar mais do lado, e você tem que aprender a cozinhar sozinho. Eu conto pra minha família o que eu aprendo na aula. E a minha mãe sempre ensinou a fazer o básico: arroz, feijão.” – Otávio, 12 anos “Eu vim de Belém do Pará e vivi lá por nove anos, desde que nasci até me mudar para Curitiba. Lá a gente comia bastante tacacá, maniçoba, que são comidas típicas de lá que são feitas principalmente da mandioca e de algumas outras comidas, como o jambu. Eu espero aprender a cozinhar esse tipo de comida um dia. Aprender a cozinhar é importante para aprender a cultura de outros povos e para que um dia, no futuro, eu possa cozinhar pros meus filhos, pros meus amigos, para familiares. É uma coisa que eu gosto de fazer. Quando eu estou com outras pessoas, eu posso conversar com elas enquanto a gente cozinha, e quando estou sozinha, posso conversar comigo mesma. É um tempinho que eu gosto. Desde pequena, eu gosto muito de cozinhar com a minha mãe. Só que, quando a gente veio para Curitiba, às vezes a gente não tinha tempo para cozinhar juntos, a família inteira. A gente acabou perdendo algumas coisas que a gente fazia, como cozinhar juntos. Aqui eu encontrei um grupo de pessoas que gostava de cozinhar também, e era muito engraçado, todo mundo ri. E também é sobre conviver com pessoas de outras salas, que a gente não vê durante o intervalo porque a gente já tem nossos amigos e outras coisas para fazer. Mas aí, no Mãos na Massa, eu posso conviver com outras pessoas.” – Maria Clara, 13 anos

Feira de produtores e seminário sobre educação alimentar acontece em Chapada dos Guimarães-MT em julho

Evento gratuito é promovido pelo Instituto Comida e Cultura na Escola Estadual Rafael de Siqueira, com apoio da Prefeitura de Chapada dos Guimarães e do Ministério Público do Mato Grosso O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, recebe o seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” no dia 5 de julho. O evento acontecerá na Escola Estadual Rafael de Siqueira. A programação inclui a apresentação de projetos pedagógicos em Educação Alimentar e Nutricional (EAN), além de uma feira de alimentos da sociobiodiversidade cultivados por produtores locais e atividades pensadas para as crianças. Os projetos em EAN são fruto do Programa Cozinhas e Infâncias na Chapada dos Guimarães, uma formação em educação alimentar voltada para professores, cozinheiras e gestores escolares, promovida pelo Instituto Comida e Cultura (ICC) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e o Ministério Público. “Com a inserção da educação alimentar na rotina escolar, é possível envolver toda a comunidade, desde a valorização do trabalho das cozinheiras enquanto educadoras, com a introdução de novas receitas, até o incentivo à gestão pública na compra e fomento de alimentos da sociobiodiversidade local. Para que a educação alimentar e nutricional nas escolas seja eficaz, é importante que essas ações sejam contínuas e permanentes”, destaca Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura.  O seminário “Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado” pretende ser uma oportunidade de polinizar as ações das educadoras que fizeram a formação do ICC, para que outros professores da rede municipal se inspirem a desenvolver suas próprias ações pedagógicas em EAN.  “O projeto Cozinhas e Infâncias atua na base da educação alimentar de nossas crianças, trabalhando no ambiente onde elas passam a maior parte do tempo: as escolas. Nesta terceira etapa, o projeto visa fortalecer os profissionais que cozinham nas escolas públicas do município, ensinando técnicas inovadoras com alimentos locais. O objetivo também é reforçar o Guia Alimentar para a População Brasileira nas escolas públicas”, afirma Leandro Volochko, promotor de Justiça de Chapada dos Guimarães. Para Benedito Lechner, secretário municipal de Educação, o projeto do Instituto Comida e Cultura tem sido uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento alimentar educacional de Chapada dos Guimarães, especialmente considerando o perfil da população da zona rural. “Temos vários servidores engajados nesse projeto, alguns participando pela terceira edição, o que demonstra o impacto e a continuidade dessa iniciativa”, avalia.  “Os professores estão adquirindo conhecimentos valiosos sobre os produtos do Cerrado, aprendendo a valorizá-los e a incorporá-los na alimentação escolar. Esse aprendizado já trouxe resultados concretos, como a inclusão do pequi e da farinha de baru no pregão eletrônico da merenda escolar, garantindo que nossos alunos tenham acesso a ingredientes naturais e nutritivos”, completa. Além das apresentações dos projetos das educadoras, a programação do seminário inclui uma mesa redonda sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e haverá distribuição do “Guia Orientador Educação Alimentar e Nutricional nas escolas municipais de Chapada dos Guimarães”, um manual desenvolvido pelo Instituto Comida e Cultura para auxiliar na implementação de práticas pedagógicas que promovam a reconexão com o alimento e o meio ambiente. Atividades para as crianças e a “Feira Sabores e Saberes” completam a agenda, e será possível comprar alimentos direto dos produtores, com foco na biodiversidade local. SERVIÇO: Seminário Cozinhas & Infâncias: Educação e Alimentação Escolar no Cerrado Feira de produtores com alimentos do Cerrado, atração cultural, rodas de conversa sobre educação alimentar, exibição de filme e atividades para as crianças. Local: Escola Estadual Rafael de Siqueira – Rua Tiradentes, 350, Chapada dos Guimarães/MT Quando: 5 de julho, das 8h às 13h30 Programação completa: 8h às 8h30 – Boas-vindas e abertura da feira8h30 às 10h30 – Apresentação de projetos: Educação Alimentar e Nutricional – Autonomia e Permanência10h30 às 11h – Intervalo com lanche11h às 11h30 – Performance cultural11h30 às 13h30 – Mesa redonda: Programa Nacional de Alimentação Escolar e suas diretrizes na Chapada dos Guimarães Programação para as crianças: 8h30 às 10h30 – Exibição de filme11h às 13h30 – Oficinas pedagógicas e lúdicas Feira Saberes e Sabores (produtores locais): aberta durante todo o evento, das 8h às 13h30.

O paladar infantil é sempre uma proposta adulta

Artigo de Murilo Góes, integrante do projeto ComidaETC O que mais me mobiliza a interagir com os estudos sobre culturas alimentares é o fato de que todos nós precisamos comer. Como seres sociais complexos, escolhemos o que deglutir, sempre que possível; nesse sentido é que desde a infância a comida, além de nutrir nossa fisiologia, torna-se também responsável por desenvolver identidades. Ingredientes e pratos são assimilados a dietas alimentares por fatores históricos, sociológicos, ambientais, econômicos, e, portanto, culturais. A comida também envolve uma série de escolhas relacionadas à preparação e ao consumo que ampliam a cadeia de sentidos. Espelhamos o que comemos, mas também comemos o que simbolicamente reflete nossas identidades. Nessa perspectiva, conversar sobre comida é uma proposta expandida de leituras, em que frequentemente dialogamos com as diversidades e também as adversidades –  sobretudo em geografias marcadas por desigualdades socioeconômicas.  Antes mesmo de ser infantil, o meu paladar, por exemplo, foi perversamente gestado pela industrialização adulta dos anos 90 e literalmente amamentado com muito açúcar, muita gordura, personagens animados, propagandas questionáveis, brindes diversos, status de pertencimento e uma persistente promessa de praticidade para que meus pais preparassem nossas refeições. Diversos já são os estudos demarcadores da relação entre alimentação e saúde. Procuro destacar que o conceito de saúde contempla reflexões sociais de múltiplos horizontes, que incluem sustentabilidade ecológica, bem-estar e identidade cultural – isso se ficarmos apenas em alguns exemplos. Para falar em saúde, no entanto, costumeiramente priorizamos referenciações fundamentadas em doenças. Nesse sentido, sublinho que, desde 1948, a Organização Mundial de Saúde compreende a obesidade como doença crônica, progressiva e recidivante – o que hoje já determina um cenário de epidemia global, afetando também crianças e bebês, por causas variadas e prioritariamente ligadas à alimentação.  Se a comida, portanto, modula uma coletividade em identidades e tradições, defendo que também é possível mobilizar uma cultura a partir das reflexões proporcionadas pela comida nos muitos contextos em que ela é presentificada. Exatamente por isso que pensar na escola como espaço educativo onde há oferta de comida permite considerar inúmeras perspectivas para alimentar o debate.  Analisando dados do Censo Escolar de 2023 relacionados à educação infantil, as dinâmicas de alimentação escolar corroboraram para o desenvolvimento de cerca de 6,8 milhões de crianças atendidas nacionalmente entre creches e pré-escolas. Se parearmos com os dados registrados pelo Censo Demográfico de 2022, concluímos que cerca de 44% do total de crianças brasileiras de até 5 anos alimentam-se nas instituições públicas relativas à primeira etapa da educação básica. Por se relacionar com expressivo percentual de pessoas diretamente impactadas, e considerando que a oferta de refeições acompanha o funcionamento das unidades de educação que acontece, em média, 5 dias por semana, é preciso reconhecer a relevância que a alimentação escolar assume na nutrição, bem como na arquitetônica do paladar e da cultura alimentar de uma densa coletividade de crianças no país.  Alimentação escolar refere-se a “todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo”, conforme definição da lei 11.947, de 2009, que institui as principais diretrizes para o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o PNAE. Os textos que delineiam o programa também destacam a relevância de oportunizar práticas para educação alimentar e nutricional, bem como uma oferta de refeições que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis.  Na educação infantil, convém realçar, vivências de alimentação encenam oportunidades para articulação de experiências e de saberes das crianças com conhecimentos que fazem parte dos patrimônios cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico – indicados, por exemplo, na definição de currículo evidenciada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), em 2009. As duas orientações legais aqui citadas posicionam a prática de comensalidade diretamente vinculada a fatores culturais e projetam oportunidade de a Alimentação Escolar ensejar essa lógica. Para isso, além de uma oferta de refeições que supere o conceito de alimentação saudável exclusivamente imbricado a referências nutricionais, torna-se necessário investir em ações de Educação Alimentar e Nutricional que também reconheçam as representações e os conhecimentos associados à sociabilidade do comer.   Entendendo que as normativas expressam movimentos dialógicos, sigo no desejo de que a abordagem sobre cultura alimentar e seus horizontes de possibilidades educativas consiga interagir com iniciativas ligadas à integração das ações de cuidado e de educação com crianças pequenas. Talvez nessa direção possamos redimensionar campos semânticos do “paladar infantil” para que crianças sejam menos impactadas pela mercantilização precarizada de um comer que cada vez mais problematiza índices de qualidade de vida. Sobre o autor Murilo Góes é gastrônomo e professor, mestre em Ensino de Humanidades e doutorando em educação pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Desenvolve eventos e trabalhos artísticos sobre alimentação, além de pesquisas sobre potencialidades educativas da comida.

Cozinhas e Infâncias leva educação alimentar ao Mato Grosso, com resgate da sociobiodiversidade

Primeiro município a receber o programa Cozinhas e Infâncias Territórios, Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, tem o Cerrado estampado em suas ruas, mesas, rostos. O segundo maior bioma brasileiro é repleto de saberes e sabores próprios, e uma cultura alimentar rica e diversa pronta para ganhar espaço nas cozinhas das novas gerações.  Esse resgate da sociobiodiversidade é um dos objetivos do Cozinhas e Infâncias, promovido no território pelo Instituto Comida e Cultura (ICC), em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso, a Promotoria de Justiça de Chapada dos Guimarães e a Prefeitura de Chapada dos Guimarães. O programa é uma formação em educação alimentar voltada a professores, nutricionistas, cozinheiras e gestores escolares da rede pública de ensino. A imersão em Chapada dos Guimarães teve início em 2023, com atividades pedagógicas que estimulam a reconexão com o entorno e com as culturas alimentares ancestrais.  Ao final de duas fases formativas, 40 educadores estavam capacitados a levar a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) a suas comunidades escolares, com um alcance de cerca de 1.000 crianças beneficiadas. Em 2025, o programa chegou à sua terceira fase no município, com foco no auxílio à implementação das práticas pedagógicas em educação alimentar idealizadas pelas professoras. “O projeto Cozinhas e Infâncias trabalha pela educação alimentar e mergulha na cultura culinária local como porta de entrada para o debate da sociobiodiversidade. Ele conecta práticas agrícolas que apoiam a produção de alimentos, identidade e tradições, sabores, saúde, educação e meio ambiente, para motivar e movimentar um espaço político favorável  à sua conservação”, explica Daniella Brochado, coordenadora pedagógica e de relações étnico-raciais do Instituto Comida e Cultura.  “Hoje, o Cerrado é nosso bioma mais ameaçado e o projeto convoca educadores do ‘coração do Brasil’ a uma reflexão emancipatória sobre as possibilidades de sistemas alimentares mais saudáveis a partir de uma atitude protagonista e uma nova consciência alimentar”, completa. No caso de Chapada dos Guimarães, a valorização dos saberes e sabores do Cerrado traduziu-se ainda na atuação do ICC junto à prefeitura para inserção de produtos da sociobiodiversidade na Chamada Pública do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município. No edital de compras de alimentos para a merenda escolar de 2025 figuram o pequi, fruta nativa que é considerada o “ouro do Cerrado”, e a castanha de baru, oleaginosa rica em nutrientes e que também tem origem no bioma. Para Flora Camargo, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, a inserção do pequi e do baru na Chamada Pública do PNAE representa um grande avanço, pois deve beneficiar as comunidades por meio de geração de renda e valorização das culturas e saberes locais, aliado à conservação do Cerrado.  “Essa ação representa um primeiro passo necessário para uma jornada maior que visa olhar para a educação alimentar e nutricional nas escolas por meio do fortalecimento dos territórios e da mudança dos cardápios, priorizando os produtos in natura aos ultraprocessados. Nossa expectativa é estimular as comunidades locais e, na sequência, conseguir ampliar a inserção para outros alimentos, como as diversas frutas do Cerrado: mangaba, caju, jatobá, entre outros”, diz Flora. As negociações para a inserção de alimentos nativos e sociobiodiversos na chamada pública estava em curso desde o fim de 2024. Um levantamento prévio de comunidades e de produtos que estão mais acessíveis no município indicou a viabilidade do baru e da polpa de pequi em um primeiro momento. Com os dados em mãos e em parceria com as nutricionistas responsáveis pelos cardápios da merenda escolar, chegou-se à lista final de alimentos para inserção na chamada pública. “É importante atuarmos para a formulação das políticas públicas. Fizemos essa incidência na chamada pública e temos outros pontos a considerar sobre a merenda escolar. A merenda é o ponto de confluência, porque não tem como a gente promover educação alimentar nas escolas, estimulando uma alimentação saudável, e fornecer uma alimentação de má qualidade e rica em ultraprocessados”, finaliza Flora.

O septuagenário de um aliado das infâncias brasileiras: PNAE completa 70 anos em 2025 e beneficia cerca de 41 milhões de estudantes no país

Autoras: Erika Fischer¹ e Jaqueline Lopes Pereira² Toda criança e adolescente tem direito à alimentação adequada, à saúde, à educação e ao desenvolvimento pleno, garantias consagradas na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e em tratados internacionais. No entanto, quando observamos os indicadores relacionados à má nutrição no país, percebemos que ainda estamos longe de garantir esses direitos a todas as infâncias brasileiras. A insegurança alimentar é mais prevalente em domicílios onde vivem crianças e adolescentes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, cerca de um terço desses lares conviviam com algum grau de insegurança alimentar. Desses, quase 5% enfrentavam a fome. Ao mesmo tempo, dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) de 2023 estimam que 14% dos menores de cinco anos e 34% daqueles entre 5 e 19 anos estavam com excesso de peso. Essa dupla carga da má nutrição revela um paradoxo alarmante, que exige ações articuladas entre diferentes setores envolvidos nos sistemas alimentares. Nesse contexto, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) destaca-se como uma das principais políticas de proteção social, sendo o segundo maior programa de alimentação escolar do mundo e o mais antigo do Brasil. Seu objetivo é promover o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem e hábitos saudáveis por meio de refeições balanceadas e ações educativas. Criado em 1955, o PNAE atende de forma universal e gratuita alunos da educação infantil, fundamental, médio e EJA em escolas públicas, filantrópicas e comunitárias. Suas diretrizes consideram diversidades étnicas, necessidades nutricionais por idade e vulnerabilidade social, com repasses de recursos diferenciados para educação infantil, indígenas e quilombolas.  Com um orçamento anual superior a R$ 6 bilhões, o PNAE mobiliza uma ampla estrutura para acontecer: são aproximadamente sete mil nutricionistas e 90 mil conselheiros atuando na fiscalização do programa. Essa engrenagem beneficia cerca de 41 milhões de estudantes (o que representa 20% da população brasileira), em mais de 150 mil escolas, garantindo diariamente 50 milhões de refeições. A Lei nº 11.947/2009 foi um marco, assegurando atendimento universal em 200 dias letivos, incluindo educação alimentar no currículo, controle social e diretrizes nutricionais, como suprir 20% das necessidades nutricionais diárias dos alunos. O PNAE também promove a aquisição de alimentos da agricultura familiar (mínimo 30% dos recursos), regionais, da sociobiodiversidade, orgânicos e agroecológicos, fortalecendo a economia local e a agroecologia. Em 2025, a Resolução CD/FNDE nº 3 atualizou as diretrizes nutricionais do programa, determinando que ao menos 80% dos recursos sejam destinados à compra de alimentos in natura ou minimamente processados, percentual que sobe para 85% em 2026. Já os alimentos ultraprocessados ficam limitados a 15% (10% a partir de 2026), e os ingredientes culinários, a 5%. A norma também recomenda evitar produtos com rotulagem frontal de alto teor de nutrientes críticos e valoriza a diversidade alimentar, ao incentivar que cada município adquira ao menos 50 tipos diferentes de alimentos in natura por ano.  Apesar dos desafios que enfrenta, o PNAE é uma estratégia central para transformar os sistemas alimentares com foco na equidade, sustentabilidade e respeito à cultura alimentar. Suas ações integram políticas de nutrição, educação, agricultura e saúde pública, impactando diretamente milhões de estudantes e promovendo a defesa e ampliação dos direitos das infâncias. Com articulação intersetorial, o programa combate a fome e a insegurança alimentar, promove educação e desenvolvimento sustentável, valoriza a sociobiodiversidade e fortalece o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), contribuindo para que os sistemas alimentares sejam ferramentas reais de garantia e promoção dos direitos de todas as infâncias. ¹Erika Fischer é gestora pública especializada em programas de alimentação escolar e segurança alimentar e atua como consultora de relações institucionais do Instituto Comida e Cultura (ICC). É responsável pelo desenvolvimento de parcerias e apoia processos de monitoramento e avaliação do ICC. ²Jaqueline Lopes Pereira é pesquisadora e mentora do Sustentarea. É pós-doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da USP, graduada em Nutrição, Mestre e Doutora em Ciências pela mesma instituição na área de Nutrição em Saúde Pública, com doutorado sanduíche no Departamento de Nutrição da Harvard T. H. Chan School of Public Health.

Cozinhas e Infâncias inicia formação de professores do ensino fundamental em São Paulo

O Programa Cozinhas e Infâncias chega à terceira fase em São Paulo com a formação de professores em Educação Alimentar e Nutricional (EAN). O primeiro encontro da nova turma ocorreu no fim de março e as aulas acontecem durante todo o semestre. Serão sete módulos que percorrem a história do alimento em paralelo com o desenvolvimento humano no mundo e a sociobiodiversidade, em especial na formação da cultura culinária brasileira.  “A proposta é trazer um contorno que evidencia tradições e modos de preparo ancestrais, além da comida de panela em contraponto aos ultraprocessados”, explica Ariela Doctors, coordenadora-geral e coautora de processos pedagógicos do Instituto Comida e Cultura (ICC).  Fotos: Fernando Martinho A iniciativa acontece em São Paulo graças a uma parceria instituída por Acordo de Cooperação Técnica entre o ICC, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, por meio de Coordenadoria de Alimentação Escolar (CODAE), e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). Com aulas expositivas e práticas, o curso pretende estimular o resgate da história, cultura e biodiversidade brasileiras, do campo à mesa. A nova fase do Cozinhas e Infâncias deve formar 300 professores do ensino fundamental da rede municipal. “Temos a expectativa que as educadoras do ensino fundamental 1 consigam dar continuidade ao que está sendo semeado em EAN desde a primeira infância junto aos estudantes das EMEIs de São Paulo”, completa Ariela. O programa Cozinhas e Infâncias teve início em 2022, em São Paulo. Até 2024, a iniciativa alcançou 546 unidades escolares de Educação Infantil (todas as EMEIs e CMEIs), 569 professores e gestores, 588 cozinheiras e 71 nutricionistas da CODAE. Cerca de 110 mil estudantes (50% do total de alunos) da rede infantil da capital paulista já foram impactados pelo programa.  A professora Maria Inês de Souza, da EMEF Érico Veríssimo, conta que cresceu na roça e que busca apresentar alimentos frescos e biodiversos aos seus estudantes. Ela é uma das participantes do Cozinhas e Infâncias este ano e espera ampliar seu repertório pedagógico de educação alimentar. “Essa formação vem agregar ainda mais à importância da alimentação saudável, voltada aos alimentos naturais, e não aos industrrializados”, diz.  Para Mariana Soares, facilitadora de processos pedagógicos no ICC, o Cozinhas e Infâncias é uma janela para pensar na conexão com a natureza por meio do alimento saudável, que a terra nos proporciona em sua maior expressão de vida. E é também uma oportunidade para compartilhar momentos felizes em comunidade, em um resgate de memórias afetivas. “Em um passado não muito distante, as crianças viam as mães aprendendo com as avós as receitas que há gerações alimentaram aquela família. Naquela observação, já se preparavam para serem guardiãs daqueles ensinamentos. De geração em geração, construíam aquela cultura alimentar, conectada com o bioma, com o clima, com a estação do ano, com as pessoas, com a natureza como um todo, criando sua próprias formas de transformar o alimento.”