Conteúdo publicado originalmente no blog do Instituto Fome Zero, de José Graziano da Silva
O recente artigo de Bill Gates sobre as “três verdades difíceis” das mudanças ambientais em curso trata de um ponto essencial: é preciso colocar o bem-estar humano no centro das políticas climáticas. Tem toda a razão em dizer que nenhum progresso ambiental será sustentável se não melhorar a vida das pessoas, especialmente das mais pobres. E que a COP30 oferece uma rara oportunidade de recolocar essa verdade no centro dos esforços internacionais.
Gates reconhece que não há recursos suficientes para fazer tudo e que, portanto, é preciso estabelecer prioridades entre as urgências ambientais e sociais. Concordo — a questão financeira é real e decisiva. Só que o debate não pode se limitar a repartir o pouco que já existe. Precisamos também discutir como ampliar esses recursos; e isso passa, inevitavelmente, por uma contribuição maior de quem mais tem e mais polui, um princípio que não parece ter sido devidamente internalizado nas discussões até agora.
Nos últimos anos, o próprio Gates apoiou a ideia de um imposto sobre grandes fortunas; mas logo se calou quando percebeu que não tinha apoio dos seus pares milionários… E a proposta não prosperou diante da resistência dos governos dos países ricos e de suas elites econômicas. Ora, por que o setor privado — que tem recursos e responsabilidade direta nas emissões — não assume uma responsabilidade maior no financiamento climático e social? Nada impede que os bilionários que se reúnem para discutir o futuro do planeta decidam agir coletivamente para financiá-lo.
Se, como afirma corretamente Gates, “não há dinheiro para tudo”, então é hora de agir sobre as duas frentes possíveis: definir prioridades entre as urgências e encontrar meios de aumentar a arrecadação atual. E definir prioridades entre as urgências significa colocar a fome no topo da lista, na minha opinião.
Bill, não se resolve o problema de uma criança desnutrida só com vacinas! Nem mesmo se ela tiver um celular com acesso à internet! Uma criança com fome pode até ir à escola, mas não aprende, não se desenvolve física e intelectualmente de forma adequada. Antes de começar a vacinar, irrigar ou digitalizar, é preciso garantir que todos possam comer adequadamente. Essa é a base de qualquer política centrada nas pessoas, seja ela climática ou social.
Leia a reportagem completa no blog do Instituto Fome Zero.